O Mágico do Oz
Na história do Mágico de Oz, uma série de livros adaptada com muito sucesso para o cinema no século passado, a menina Dorothy é deslocada por um furacão de seu Kansas natal para a imaginária terra de Oz. Lá, ela se envolve em aventuras na companhia de um espantalho, um homem de lata e um leão covarde. Caso você ainda esteja em dúvida, uma das formas de tentar definir seu voto para presidente nas eleições que se aproximam é imaginar-se no país de Oz, na pele de Dorothy.
Cave um buraco perto de um inimigo
No livro de contos “Faroestes”, Marçal Aquino usa uma frase do poeta Jerome Rothenberg como epígrafe: “Cave um buraco perto de um inimigo”. A frase remete à ideia de que é preciso conhecer o inimigo para enfrentá-lo. Alguma dúvida de que, no Brasil, consideramos políticos como inimigos? Seguindo a sugestão, para que se decida por um candidato nas eleições, convém que os analisemos pela ótica de seus detratores.
Assim, não nos iludiremos pelas douradas e fictícias imagens criadas pelos maquiavélicos marqueteiros, e teremos a irônica sabedoria popular a nos revelar a verdadeira identidade de cada candidato. Por esse ângulo, Dilma é um poste, Marina, uma esfinge, e Aécio, um playboy. E você, eleitor, uma Dorothy.
O poste, a esfinge e o playboy
Dilma é o poste ambulante, a gerente mal-humorada e ineficiente que o caprichoso Lula enfiou goela abaixo dos brasileiros. Marina é a esfinge etérea dos seringais do Acre, a evangélica inimiga do agronegócio e gestora incompetente que não conseguiu sequer criar seu partido a tempo de disputar as eleições. Aécio é o playboy das Alterosas, o surfista do estado sem mar, o homem que governou Minas do Leblon e que representa a nova direita brasileira. Todos eles apregoam mudanças.
O poste propõe a mudança pela manutenção de tudo como está, ou seja, mudar para continuar igual, sempre dando um apoio para os companheiros malfeitores, aumentando a inflação e mantendo o país em ponto morto. Ou algo do gênero. A esfinge professa a mudança pela linguagem das esfinges, aquela cheia de enigmas indecifráveis, oferecendo sonhos e soluções criativas, uma delas, pelo que se diz, a obrigatoriedade de aulas de religião em escolas públicas.
Ou algo do gênero. O playboy apregoa a mudança pela volta ao passado em direção ao futuro nebuloso, mantendo o que deu certo, ou não, muito pelo contrário, sem nunca perder de vista que governar é abrir pistas de pouso. Ou algo do gênero.
É difícil, Dorothy, eu sei. Mas você consegue. Lembre-se de sua mãe, quando você era criança, tentando convencê-la a tomar um remédio amargo: “Tapa o nariz e engole, rápido!”. Pois é assim que devemos votar.
Livre-arbítrio
Para que não entremos em depressão com as eleições presidenciais, lembremos aquele velho ditado do sábio taoísta Zao Tsu: a coisa sempre pode piorar. Afinal, hoje é domingo, dia perfeito para se mergulhar num buraco sem fundo. Basta que analisemos as eleições para o governo estadual, e aí, sim, teremos razões de sobra para nos exasperar. A tomar por um candidato muito bem posicionado nas pesquisas, restam-nos algumas alternativas interessantes: o suicídio puro e simples ou o exôdo em massa do estado do Rio. Nada como o livre-arbítrio.
Distraídos venceremos
Sim, estou meio deprê hoje. Falemos de coisas mais “pra cima”, para fechar a crônica com uma visão positiva. Você tem assistido à propaganda eleitoral obrigatória? O que é aquilo? O circo dos horrores? E sejamos realistas, o negócio já foi mais engraçado, não? Se a intenção dos comediantes que compõem o elenco da propaganda eleitoral obrigatória era nos divertir, alguém precisa avisá-los de que só estão conseguindo inflar nossa paciência aos limites do desespero. Deviam dar a palavra a quem entende do riscado, como Gregorio Duvivier, que escreveu uma crônica contundente no último dia 25 na “Folha de S.Paulo”.
No texto, Gregorio alerta: “É constrangedor ver todos os principais candidatos se estapeando pelo eleitorado conservador. ‘Você me conhece, sabe que eu sou o que mais acredita em Deus, o que mais passou longe de cheirar pó, olhem só como a minha filha é virgem, olhem só como o meu filho é hétero’”. No fim da crônica, ele conclama ateus, maconheiros, vagabundas, pederastas, sapatões e travestis a se unir contra a onda de conservadorismo. Conte comigo, Gregorio. Distraídos venceremos, já dizia Paulo Leminski.
Pela morte e contra a família
E já reparou que todo candidato que se diz pela vida e a favor da família está querendo dizer, na verdade, que é contra a legalização do aborto e do casamento gay? O que faria de alguém como eu, que sou a favor da legalização do aborto e do casamento gay, um candidato pela morte e contra a família. Não se preocupe. Eu jamais me candidataria.