Os dias úteis são agora fator decisivo no cálculo do governo para o crescimento e, especificamente este ano, eles foram abaixo da média histórica, o que explica o PIB de 0,6% que pôs o país em recessão.
Não só isso, mas a decepção da Fazenda com o desempenho internacional e a seca que aumentou o custo da energia. São as desculpas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para o resultado pífio que, enquanto esses fenômenos ocorriam, ele garantia ser pessimismo profissional da oposição.
As frases de Mantega remetem o PT a um universo paralelo onde tudo vai muito bem. Ao reagir às críticas do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que se vier a sucedê-lo na Pasta, em caso de eleição do senador Aécio Neves, teme “por um retrocesso”.
É de se perguntar por que Mantega enxerga o abismo no futuro, quando ele já está a seus pés. O ministro chega ao delírio de dizer que as propostas de combate à inflação dos adversários políticos podem levar à recessão, como se ela já não estivesse aí – e como fruto de sua gestão.
O governo de Mantega não manipula apenas planilhas, mas a verdade histórica. Repete diariamente que o governo do PSDB, há 12 anos, entregou uma inflação maior do que a do PT hoje. Omite que o governo de Fernando Henrique entregou uma inflação muitas vezes menor do que recebeu.
Ao contrário, o PT conclui o governo Dilma com uma inflação maior do que recebeu e uma economia em recessão. Mas insiste na comparação com os tucanos, mesmo depois de 12 anos no poder. Não atinaram ainda com a realidade de que a comparação agora é entre o governo Dilma e o de Lula.
O que dá sentido à motivação do ex-governador Eduardo Campos de concorrer, tomada em 2012, mas somente assumida um ano depois, ao perceber que Dilma faria o que Lula evitou em seu primeiro mandato ao assinar a Carta aos Brasileiros. Ou seja, investiria contra os fundamentos do plano de estabilidade que permitiu ao seu antecessor dois mandatos consecutivos.
Algumas frases do ministro da Fazenda sugerem mais que uma reação agressiva – autorizam a ideia de que perdeu o senso de realidade. “Vamos deixar um país sólido”, “Somos credores, emprestamos a outros países (deve se referir a Cuba e ao perdão de dívidas de países africanos), “É uma situação de solidez financeira”, e vai por aí.
Não são frases de um passado distante e próspero. São de ontem e de hoje. Uma delas parece indicar que Mantega vive em um universo paralelo: “Nós podemos voltar aos juros estratosféricos que tivemos no passado”, disse, ao anunciar o temor da fórmula de combate à inflação defendida pelo oposição.
Os juros atuais de 11% não são, pois, altos para o ministro da Fazenda. Não pode, porém, debitá-los a antecessores, visto que a presidente Dilma os baixou, na marra, e foi obrigada pela realidade a aumentá-los além do patamar que estavam.
Sua declaração aos jornais ontem poderia ser atribuída a um jogador de futebol à beira do gramado, ao explicar a derrota de seu time, bastando trocar as referências formais. Disse Mantega: “Este ano está sendo mais difícil, mas vamos continuar trabalhando para fazer o maior primário possível”.
Diz sempre qualquer jogador do time derrotado: “Foi um jogo difícil, não deu dessa vez, mas vamos continuar dando nosso melhor para conseguir a vitória”. Conversa, como se sabe, para a arquibancada.