O Globo
A recessão de 2014 é diferente da enfrentada pelo país em 2009 e mais difícil de superar. Há cinco anos, o PIB foi derrubado por uma tsunami: a crise financeira internacional. Mas, a exemplo do que aconteceu com outros países, o Brasil voltou a crescer rapidamente. Agora, o que se vê é um ciclo prolongado de baixo crescimento com inflação alta, sem que BC e Tesouro tenham margem para dar estímulos.
Em 2008, o país vinha crescendo fortemente. A taxa acumulada em 12 meses até setembro daquele ano apontava alta de 6,6% do PIB. O banco americano Lehman Brothers quebrou no dia 15 do mesmo mês, e o crédito mundial entrou em colapso. Isso fez a economia brasileira dar um mergulho e afundar a -1,4% no terceiro trimestre de 2009. A queda foi vertiginosa, mas a recuperação também foi rápida. No final de 2010, o crescimento já voltara para 7,5%.
O cenário atual é bem diferente. A economia vem girando num patamar baixo há muito tempo. Nosso maior crescimento em quatro anos é a taxa de 2,7% conquistada em 2011. Depois disso, houve 0,9%, em 2012; e 2,5% no ano passado. Voltamos a desacelerar para 1,4% no segundo trimestre deste ano, sempre nessa comparação de taxas acumuladas em 12 meses.
Há várias diferenças que fazem o momento atual ser mais complexo. Uma delas é a inflação elevada. A queda do PIB em 2009 provocou uma descompressão nos preços. O IPCA marcou 4,17% em outubro de 2009 e fechou o ano em 4,31%, abaixo do centro da meta. Este ano, o mesmo índice marca 6,5% em julho, no limite máximo de tolerância, e ainda sem contabilizar uma série de reajustes que estão sendo represados, como gasolina, energia elétrica, tarifas de transporte público.
Essa alta dos preços anula uma das principais armas usadas pelo governo para estimular a economia em 2009: a queda dos juros. Este ano, o Banco Central foi obrigado a subir a Selic para 11%, e as projeções do mercado financeiro são de que a taxa chegará a 12% no ano que vem. A política monetária, que antes jogou a favor, agora veste a camisa de outro time.
A mesma coisa pode ser dita da política fiscal. Até 2009, o governo fazia superávits fiscais altos e sem truques contábeis. Este ano, o Tesouro contabiliza vários meses no vermelho, ou seja, está fechando as contas no negativo mesmo excluindo o gasto com juros. O déficit nominal está em alta, assim como a dívida bruta. Não há caixa no Orçamento para se fazer estímulos.
O que une as duas crises são os erros da política econômica. Chegamos até aqui principalmente porque os estímulos de combate à crise de 2009 foram mantidos, com incentivo ao consumo. Isso drenou recursos que deveriam ser direcionados para os investimentos e elevou a inflação. O mau momento tem causas internas.
Gás mais caro prejudica a indústria
O consumo de gás natural pela indústria caiu 1,4% em julho, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O dado será divulgado oficialmente amanhã pela Abegás, associação que reúne as distribuidoras de gás canalizado. “O despacho para o setor segue fraco em agosto. A Petrobras retirou o desconto dado, e o gás está em média 1,57% mais caro. Ou seja, a indústria ficou ainda menos competitiva”, afirmou Augusto Salomon, presidente-executivo da entidade. Uma das causas para o aumento do preço é o consumo de gás pelas usinas termelétricas. A indústria ganhou um novo competidor com o baixo nível de água dos reservatórios.
Sem estímulo para investir
Ainda não há estímulo para desengavetar projetos de investimento, conta o executivo de uma empresa de logística do Espírito Santo, mas que tem clientes em todo o território nacional. A companhia tem notado adiamento de contratos para prestação de serviços, e isso faz ela própria perder o ímpeto de investir. O recuo nos pedidos é mais evidente entre os clientes da indústria e do setor de commodities.
MÃOS ATADAS. O Copom deve manter a taxa de juros em 11% na reunião de quarta-feira. PIB fraco e inflação alta são o pior dos mundos para um Banco Central
ESTOURO DA META. O Bradesco estima o IPCA de agosto em 0,27%. Se acontecer, a taxa em 12 meses subirá para 6,53%. O resultado sai na sexta-feira.
ALERTA NA BALANÇA. O preço internacional da soja caiu 23% desde 30 de junho. Minério de ferro recuou 6%.