domingo, 31 de agosto de 2014

Caetano Veloso declara apoio a Marina Silva e é criticado nas redes sociais

Letícia Fernandes - O Globo

Cantor chegou a confirmar gravação de vídeo em homenagem a Eduardo Campos, mas desistiu

“Quanta coisa se mexe com esse grito”. Em uma postagem no Facebook na tarde deste sábado, o cantor e compositor Caetano Veloso declarou apoio à candidata à Presidência Marina Silva (PSB), tecnicamente empatada com a presidente Dilma Rousseff no primeiro turno, segundo a última pesquisa Datafolha. O cantor, que votou na verde nas eleições de 2010, celebra o fato de a ex-senadora, “a segunda mulher presidente e o primeiro postulante de pele escura” poder chegar ao Palácio do Planalto, e diz ver que a sociedade brasileira está se movimentando “para crescer com dores suportáveis”: “O que está à nossa frente é a nossa respeitabilidade como nação. Recusar isso seria estar cego para toda luz”, escreve.

Caetano disse também não ter rejeição aos economistas liberais que cercam Marina, referindo-se ao economista André Lara Resende e a Eduardo Giannetti, um de seus conselheiros na campanha. O economista mineiro defende que, caso eleita, a candidata busque se aproximar dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Mas a escolha de Caetano foi criticada por fãs nas redes sociais. Pouco depois da publicação apoiando Marina, uma enxurrada de comentários negativos brotaram no Facebook do cantor.

“Que decepção, Caetano”, “Agora você caiu no meu critério” e uma série de outras críticas mais duras, em que internautas chamaram Caetano de conservador e incoerente.

Além de ter votado em Marina Silva nas eleições de 2010, em que a pessebista, ex-PV, ficou em terceiro lugar nas pesquisas, com quase 20 milhões de votos, Caetano Veloso tinha relação de proximidade com Eduardo Campos. O diretor de cinema Guel Arraes, tio do ex-governador de Pernambuco, morto em um acidente de avião, é amigo antigo de Caetano. Depois da morte de Campos, o cantor foi sondado pela equipe de campanha do PSB e chegou a topar gravar um vídeo para a campanha em homenagem ao ex-governador, mas acabou desistindo.

Leia, abaixo, a íntegra da publicação feita por Caetano Veloso no Facebook:

“MARINA PRESIDENTE. Quanta coisa se mexe com esse grito! A segunda mulher presidente e - detalhe de grande força que não tem sido lembrado - o primeiro postulante de pele escura. Com seus elegantes traços, resultado óbvio da mistura de cafusos com mamelucos, Marina, além de vir do coração da Amazônia (onde a lei faz quase desesperados esforços para instalar seu império), da luta ao lado de Chico Mendes, da fase heróica do PT, ela significará a chegada de evidentes fenótipos negros no posto da Presidência da República. Isso não é pouco. Sentirei orgulho (todos sentiremos coisas diferentes sobre o Brasil) ao ver seu rosto representando nosso país nas imagens que se espalharem pelo mundo. Mas há mais. Muito mais. 

O tom digno com que Marina mantém, desde sua útlima tentativa eleitoral majoritária, a determinação de levar à frente os avanços conquistados por FH e Lula. A coerência íntima com que ela se manifesta ao longo dos anos (que é diferente do mero repetir a mesma coisa). Sou dos que sempre quiseram que o país aproveitasse o que essa sucessão de lutadores pela democracia nos legou. Eu já disse em entrevista que, diferentemente de alguns amigos esquerdistas, não tenho rejeição pelos economistas de base liberal que se acercam de Marina. 

Pelo contrário, dado o conteúdo do primeiro livro de Eduardo Gianetti, “Vícios privados, benefícios públicos?”, em que o ponto de interrogação define o liberalismo crítico que se expande pelas páginas que não deixam de lado nem mesmo o suspeito desprezo da filosofia europeia pelo homem tropical, e também dos últimos escritos de André Lara Resende, em que a obsessão com o crescimento perene é posta em cheque, não vejo por que jogar fora a liderança de uma mulher com esse histórico sobre técnicos que são também pensadores. Vou votar em Marina como votei em Lula em 2002. E, mais, como votei em Marina em 2010. 

Chorei na cabine no momento Lula (havia toda a simbologia da chegada dele à presidência e demasiadas complexidades em minha vida). Senti felicidade ao votar em Marina em 2010: saber que contribuía para fazer forte a marca de sua presença no imaginário nacional!... 

Agora, vejo o momento Marina. Irresistível. Cheio de promessas e insinuações. É a sociedade brasileira se movimentando para crescer com dores suportáveis. O que está à nossa frente é a nossa respeitabilidade como nação. Recusar isso seria estar cego para toda luz”.