domingo, 31 de agosto de 2014

Petrobras tem US$ 430 bilhões no pré-sal e resultados fracos

Bruno Rosa e Ramona Ordoñez - O Globo

Com significativo potencial de aumento em suas reservas, a Petrobras pode quase quadruplicar suas riquezas nos próximos anos, passando dos 16,5 bilhões de barris de petróleo provados para cerca de 60 bilhões de barris. Desse total, 43 bilhões são oriundos apenas dos campos do pré-sal, que, de acordo com cálculos do consultor e ex-presidente da Petrobras Armando Guedes Coelho, valem entre US$ 400 bilhões e US$ 430 bilhões no mercado internacional. Mas, apesar de ter registrado um dos maiores avanços no volume de reservas em relação às demais companhias do setor, a estatal não vem entregando os resultados esperados pelo mercado.

Segundo especialistas, embora a companhia tenha colocado em operação nove novas plataformas no último ano e iniciado um programa de corte de custos, a defasagem dos preços dos combustíveis obrigou a estatal a amargar perdas bilionárias — de R$ 8,4 bilhões nos dois últimos anos, diz o Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) — e aumentou seu nível de endividamento, que em junho foi de R$ 241,3 bilhões, mais que o dobro dos R$ 103,022 bilhões do fim de 2011. No primeiro semestre, o lucro da estatal somou R$ 10,3 bilhões, o que significa queda de 25% em relação a igual período de 2013.

A expectativa, agora, dizem analistas, é reverter esse cenário com o aumento na produção, que começou a reagir desde abril deste ano. Assim, no primeiro semestre, houve alta de 1%, para 1,94 milhão de barris por dia, em relação ao mesmo período do ano passado. No ano, a meta da empresa, no entanto, é alcançar alta de 7,5% na produção. Ainda assim, o resultado no semestre é o inverso do registrado pelas principais gigantes petrolíferas no período: a Exxon Mobil caiu 4,11%, assim como a Royal Dutch Shell (-5,10%), Chevron (-2,03%), Total (-14,37%) e BP (-8,06%). Segundo a Petrobras, dados preliminares de agosto apontam uma produção de cerca de 2,1 milhões de barris por dia, um aumento de 9,5% no acumulado deste ano. A estatal diz ainda que espera um crescimento contínuo até atingir 4,2 milhões barris diários em 2020.

— Todas as grandes empresas têm reservas em queda, enquanto a Petrobras tem grande volume a explorar pelos próximos anos. Se fosse uma empresa privada, poderia vender essas reservas. É uma riqueza que precisa se materializar, ser monetizada logo. Os 43 novos bilhões de barris do pré-sal valem no mercado mundial algo em torno de US$ 400 bilhões a US$ 430 bilhões, o que mostra que a dívida da Petrobras é irrisória face a esse ativo que é praticamente real — destaca Armando Guedes.


Bens de executivos foram bloqueados

Para o advogado especializado em óleo e gás Cláudio Pinho, a produção da Petrobras já poderia ser maior, não fossem os atrasos dos fornecedores e as paradas programadas pela estatal em suas plataformas. O advogado lembra ainda que Maria das Graças Foster, presidente da estatal, esperava gerar mais caixa com a venda de ativos, o que não aconteceu. Ele cita as operações na Argentina e a polêmica refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

— Somando-se a esses fatores, estamos sem uma política energética. De um lado, o governo controla preços dos combustíveis e, de outro, estimula o uso de automóveis com a redução do IPI. Tal falta de planejamento é uma característica constante no Brasil — afirma Pinho.

Além desses problemas, o consultor Wagner Freire, ex-diretor da Petrobras, diz que a estatal foi prejudicada com a paralisação entre 2008 e 2013 das ofertas de áreas para exploração no país, quando o governo discutia o novo marco regulatório do pré-sal, que culminou com a criação do regime de partilha. Para Freire, a situação da Petrobras “é um reflexo da má administração do governo no país".

— As dificuldades da Petrobras, de um modo geral, decorrem da política conduzida desde o governo Lula. As descobertas dos campos do pré-sal, a partir de 2005, mal avaliadas pelo governo e usadas politicamente, motivaram mudanças na Lei do Petróleo, absolutamente desnecessárias, afogando a Petrobras em projetos complexos e dispendiosos, eliminando a concorrência e afugentando os investidores estrangeiros. No governo Dilma, a imposição à Petrobras de venda de derivados abaixo de preços de mercado, está levando a companhia à situação de insolvência, o mesmo acontecendo com o setor de produção de etanol — diz Freire.

Especialistas destacam extensa lista de projetos problemáticos, principalmente, na área de refino. É o caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Além de sofrerem atrasos e forte aumento de custos, eles vêm sendo alvo de denúncias de superfaturamento em contratos, motivando investigações do Tribunal de Contas da União (TCU). A própria Graça, ao assumir a estatal, em fevereiro de 2012, havia destacado que Abreu e Lima era um projeto para não ser repetido.