Folha de São Paulo
No século 19, parte dos trabalhadores ingleses decidiu combater o progresso tecnológico, que corretamente viam como uma ameaça a seus empregos, destruindo máquinas. Eram os luditas. Suas ações acenderam o imaginário popular, mas não foram capazes de deter a revolução industrial.
Algo parecido pode estar ocorrendo agora em relação à internet. O fenômeno é variegado e abarca desde um juiz tentando proibir um aplicativo que assegura anonimato a quem faz comentários na rede até taxistas protestando contra um programa que promove "caronas remuneradas". Até pode haver lampejos de justiça nessas causas, mas desconfio que a derrota é inexorável.
Mesmo que o aplicativo Secret seja banido do Brasil, não será difícil para o usuário acessar versões estrangeiras das lojas de aplicativos e assim burlar a restrição. Quanto aos taxistas, não há muito o que fazer. Como dizia o George Carlin da prostituição, não dá para querer tornar ilegal a venda de algo que pode ser dado de graça totalmente dentro da lei. Se a carona gratuita é permitida, fica muito impedir a carona paga.
Ao contrário de magistrados e taxistas não estou tão convencido do caráter maléfico dessas novidades. Tecnologias tendem a apresentar-se em tons mais cinzentos, oferecendo diferentes "blends" de benefícios e problemas. Mesmo quando são claramente desvantajosas, podem às vezes tornar-se um caminho sem volta.
Essa ao menos é a tese do geógrafo Jared Diamond, para o qual a adoção da agricultura, embora tenha sido "o pior erro da história dos seres humanos", tendo, num só golpe, destruído a saúde das pessoas e criado as distinções sociais, se espalhou como uma praga pela humanidade. A razão principal é que povos agrícolas eram capazes de produzir muito mais gente do que a concorrência.
Basicamente, quem aposta contra a tecnologia acaba perdendo, mesmo quando tem razão.