Unir publicidade, política e a emoção dos acordes musicais pode ser o segredo dos jingles das campanhas eleitorais de sucesso. E foi exatamente isso que a equipe da campanha do então candidato à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, em 1994, conseguiu ao criar o hit eleitoral “Levanta a Mão”. Cantada pelo sanfoneiro e ídolo nordestino Dominguinhos, a música elegeu FHC no 1º turno com 55% votos de todas as regiões do Brasil, contra 27% do rival Luiz Inácio Lula da Silva.
O projeto somou a criatividade dos publicitários Nizan Guanaes e Sérgio Campanelli e o conhecimento musical de César Brunetti. (veja no vídeo abaixo como foi criado o hit ‘Levanta a Mão’). Na época, muitos consideram o jingle uma estratégia de marketing para angariar votos ao tucano do Nordeste, onde FHC não tinha um sólido eleitorado. E foi considerado uma alfinetada no então rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que perdeu o dedo mínimo da mão esquerda em uma máquina.
“Não passa de uma lenda, e o FHC nunca seria tão deselegante”, nega Campanelli, a respeito das duas histórias ao iG. O publicitário reconhece, porém, que a voz de Dominguinhos foi fundamental para o resultado do jingle, pois “representava a voz da razão, paterna e emoção”. Em um momento sensível da política e consolidação do Plano Real, tal combinação era o que o eleitor procurava para o Brasil, opinou o profissional, que consolidou sua carreira na publicidade à frente da MCR, uma das produtoras mais premiadas do País. E era apenas o primeiro trabalho dele no mundo político.
Após a eleição de FHC, o publicitário ajudou a eleger governadores e deu consultoria a políticos famosos, como Fernando Gabeira, Soninha Francine e até Marina Silva, que disputa à Presidência neste ano. “O perigo de você fazer uma música bem feita para um candidato é que ele pode ser eleito. No caso do Lula, ele teve a felicidade de ter um jingle ótimo. A ponto da imagem dele ainda sofrer influência na candidatura da Dilma”, explicou Campanelli relembrando o sucesso de “Lula lá”, escrito por Hilton Acioli na campanha de 1989.
“É tão perigoso [fazer um bom trabalho] que você pode eleger um poste como a Dilma Rousseff”, criticou o publicitário, que não esconde a aversão pelo PT e a admiração ao FHC, que “é melhor em tudo”, segundo ele. Ainda assim, o profissional reconhece que o PT “dá um banho” em todos os outros partidos no quesito publicidade. “É só comparar as cenas de Dilma na televisão e Aécio. É gritante. João Santana, que era braço-direito de Duda Mendonça está fazendo um trabalho maravilho. Ele é um ministro sem pasta”.
Neste ano, o publicitário foi responsável pela criação do jingle Coragem para Mudar o Brasil, tema da campanha presidencial de Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo no último dia 13. A música sofreu uma adaptação na última semana, como antecipou o iG com exclusividade. Marina Silva decidiu adotar o mote Não vamos desistir do Brasil de Campos. “Eu e Brunetti [autor da letra] queríamos uma música jovem e que fosse um retrato do Brasil. Perfeita para eles [Eduardo e Marina] que são a terceira via, entre os tradicionais PT e PSDB”.
“Dois hambúrgueres, alface, queijo...”
Apesar de ter entrado com o pé direito no mundo político, foi com a tradicional publicidade que a empresa de Campanelli invadiu a cabeça dos brasileiros. A MCR – que chegou a empregar mais de 30 compositores – foi responsável por sucessos como “Pipoca e Guaraná”, do Guaraná Antárctica, “Bichos do Parmalat” e o conhecido “dois hambúrgueres, alface, queijo...” do McDonald’s.
Entre as campanhas que o publicitário conta com orgulho são as parcerias com grandes nomes da música brasileira, como Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Ray Charles e “quem mais você imaginar”. Campanelli lamenta apenas não ter tido a oportunidade de trabalhar com Elis Regina, “que odiava a publicidade”, ele conta. Mas supriu a vontade fazendo parcerias com os filhos da cantora, Maria Rita e Pedro Mariano.
“Eu não sou músico” foi uma das explicações que o publicitário mais repetiu durante a entrevista ao iG em seu escritório, em São Paulo. Criado em Londrina (PR), ele confessa ter sido encontrado pela música e dominar muito pouco as cordas do violão. Entre grandes músicos durante os projetos, seu trabalho é o de filtrar e separar boas e más ideias. E foi esse filtro que lhe rendeu inúmeros prêmios, entre três leões de Cannes e um Caboré, que reconhece a atuação publicitária de excelência no Brasil.