domingo, 31 de agosto de 2014

Vice de Marina, Beto Albuquerque reconhece ‘equívocos da coordenação’ na montagem do plano de governo

Flávio Ilha - O Globo

Segundo Beto Albuquerque, não é atribuição do Executivo defender projetos de leis

O candidato a vice na chapa de Marina, deputado federal Beto Albuquerque, admitiu em Porto Alegre neste domingo, durante corpo a corpo com eleitores no Parque da Redenção, que a coordenação da campanha de Maria se equivocou ao incluir na proposta de programa de governo a defesa de projetos de lei que estão em tramitação no Congresso.

Segundo Beto, houve uma “invasão de competência” do programa em relação à defesa de propostas e emendas constitucionais que garantam o casamento civil gay e à articulação, no Congresso, para a votação do projeto que criminaliza a homofobia.

— O equívoco foi uma campanha presidencial assumir compromissos com projetos de lei no Congresso, o que é uma invasão de competência. Então, não há recuo nos nossos compromissos com o movimento LGBT, com a defesa dos direitos civis desses companheiros que, como todos os brasileiros, têm direitos assegurados. O exagero e o desafino da nossa coordenação foi estabelecer compromisso com aquilo que só o parlamento pode fazer, seja por projeto de lei ou emenda constitucional. Isso não é atribuição do Executivo — disse o candidato.

O texto original do programa do PSB, divulgado na sexta-feira, defendia o apoio a propostas legislativas em defesa do casamento civil igualitário e a aprovação de projetos de lei e emendas que garantissem o direito a esse tipo de casamento na Constituição Federal e no Código Civil. Também fazia menção à aprovação da PLC 122/06, que criminaliza a homofobia. No sábado, uma nota da coordenação alterou vários desses itens.

Beto garantiu que as propostas do PSB em relação à comunidade LGTB não foram alteradas e que continuam sendo “mais avançadas do que a Dilma ou o Aécio”.
— É só ler os programas de ambos para ver que temos compromissos muito mais claros e inequívocos em relação a isso — declarou.

Mas, quando perguntado, o candidato não quis bater de frente com o pastor evangélico Silas Malafaia. No sábado, horas antes do PSB anunciar as mudanças, Malafaia classificou o programa do PSB em relação às comunidades gays de “lixo moral” e cobrou um posicionamento de Marina, que também é evangélica, sobre o tema.

— Ninguém tem que obrigar religião nenhuma a pensar de forma uniforme, tampouco seguir os passos da política. Não vou entrar no mérito (das ameaças). O pastor Malafaia é uma liderança religiosa muito grande no país, nós respeitamos as atitudes dele, mas não podemos fazer um governo desta ou daquela religião. Temos que fazer um governo para os brasileiros — contemporizou Beto.

ENERGIA NUCLEAR ‘NÃO ERA PARA ESTAR LÁ’

O candidato também confirmou que a questão envolvendo a posição do PSB sobre energia nuclear “não era para estar lá” (no programa de governo). Segundo Beto, essa matriz energética “está fora do consenso” das lideranças da campanha de Marina. O tópico igualmente foi alterado horas após a divulgação do documento, na sexta-feira em Brasília.

No ato, promovido pela coordenação feminina do PSB no Rio Grande do Sul, Beto voltou a defender a aproximação de Marina com o agronegócio e disse que o setor, junto com a agricultura familiar, é responsável por um quarto do PIB brasileiro.

Na próxima quinta-feira, Marina e Beto vão visitar a Expointer, a maior feira do agronegócio da América Latina que ocorre em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre. Lá, se reúnem com lideranças do setor e também da agricultura familiar, que são mais próximos à candidatura da presidente Dilma Rousseff.

Beto também minimizou a possibilidade de, numa eventual eleição, Marina governar sem maioria parlamentar ao dizer que, se eleita, a candidata vai governar “com a força das urnas”.

— As urnas, quando te dão essa força, permitem que você estabeleça uma relação política na largada. Ou seja, não vamos propor reforma tributária, reforma política, no terceiro ano. Vamos propor nos primeiros meses do primeiro ano de governo, para que esse lastro da sociedade, que está vindo conosco, permita uma negociação diferente na Câmara e no Senado. Nós vamos construir essa maioria, mas sem cacifar as velhas raposas — assegurou.

Beto criticou a aliança parlamentar em torno da presidente Dilma, “que não aprova nada”, dizendo que ela “custa muito caro ao país”:

— Os espaços do governo foram fatiados em troca de alguns segundos na televisão. O programa da presidente é um filme de Hollywood, é um Brasil em que todo mundo gostaria de morar, sentar na praça, tomar um chimarrão, não tem violência, a saúde funciona, o transporte é uma maravilha, não tem inflação. Quer dizer, esse espetáculo cinematográfico custa muito ao Brasil porque é fruto do fatiamento do Estado entre os partidos.

O candidato ao Senado ao Rio Grande do Sul pela coligação, Pedro Simon (PMDB), bateu na mesma tecla.

— Depois de eleger Marina, temos de ir para as ruas dar a ela a cobertura para que possa exigir do Congresso as mudanças necessárias ao país — discursou.