O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro semestre de 2014 decepcionou mais do que o esperado. Foi um fiasco: o dinamismo da economia mostra fadiga, freou e paralisou; decisões de novos investimentos foram adiadas ou canceladas; empregos deixaram de ser criados; encolheu a renda da população; o País perdeu tempo e ficou mais pobre. O governo Dilma deve encerrar seu mandato com taxa média de crescimento de 1,7%, a terceira pior da história da República (depois de Fernando Collor e de Floriano Peixoto) e muito abaixo da média histórica de 4,4% em mais de um século.
Quando comparado com países vizinhos da América do Sul, o PIB brasileiro deste ano se distancia dos melhores e vai fazer companhia à Venezuela e à Argentina - países que vivem estúpidas crises econômicas decorrentes de decisões erradas de seus governantes, que afastam ou cancelam investimentos, e de um populismo demagogo, anacrônico e ultrapassado que visa a mascarar o fracasso na economia com discursos inflamados, ora contra o capital estrangeiro, ora contra a imprensa, ora contra todos os que deles discordem.
Esse populismo até pode conseguir apoio popular efêmero (embora esteja à beira do esgotamento), mas atrofia e atrasa o progresso econômico e político. Na Argentina, Cristina Kirchner acusa sindicatos de trabalhadores, empresários, a imprensa, economistas e seus críticos de serem todos "financiados pelos fundos abutres". Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro ameaça "expropriar" empresas estrangeiras e leva jornais a fecharem suas portas ao lhes negar dólares para importar papel.
A intolerância na convivência com a oposição levou a violentos conflitos de rua na Venezuela, que há seis meses resultaram na morte de 43 pessoas. E na Argentina Cristina enfrentou, na quinta-feira, a terceira greve geral de trabalhadores de seu atual mandato e pode enfrentar a quarta em setembro, se não ceder aos sindicatos, que reclamam da alta da inflação e da queda do valor real dos salários.
Segundo a Cepal, em 2014 o PIB argentino vai recuar 1% e o tombo da Venezuela pode chegar a 2%. E mais, nos dois países a inflação segue em disparada, com taxas que fecharão o ano em 40%, na Argentina, e 60%, na Venezuela - as maiores do mundo. Enquanto isso, para 2014, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indica crescimento econômico de 5,5% no Peru, 5,1% na Bolívia, 4,5% na Colômbia, 3,6% no Chile e 3% no México.
Os dois países não precisavam viver esse retrocesso. A Venezuela é rica em petróleo, produz o barril a US$ 15 e o exporta a US$ 110, tem lucro fabuloso, mas ninguém sabe onde é aplicado, porque não há por lá fiscalização do dinheiro público. Sabe-se que não há programa de governo nem projetos voltados para fomentar investimentos, fazer crescer e desenvolver o país. Pelo contrário, o comportamento sistemático contra o capital privado tem levado investidores recentes a abandonarem o país e os mais antigos a conviverem com o governo no fio da navalha.
Com isso, faltam produtos básicos e essenciais, como leite, farinha, açúcar e até papel higiênico. O governo congelou o câmbio a 6,30 bolívares, mas o dólar é vendido a 90,00 bolívares no mercado paralelo.
A Argentina vive as consequências de uma moratória - forçada e indesejada, mas moratória: o crédito externo secou e as exportações estão em queda livre, agravando a revoada de investidores que deixam o país desde que o governo impôs o controle da saída de dólares; a inflação alta encolhe o consumo; os salários estão em queda; a economia, em recessão; e há insatisfação e protestos populares por toda parte.
Por enquanto, o Brasil ainda está longe disso, mas assustam os números que saem da pesquisa do PIB, sobretudo as taxas de investimento e poupança que projetam a economia no futuro. Quando Dilma assumiu o governo, a taxa de investimento era de 19,4% do PIB, agora está em 16,5%, e a de poupança era de 17,5% e caiu para 14,1%. Efeito do descrédito de investidores na gestão da economia. E, para piorar, o déficit nominal das contas públicas em julho foi o pior da história.