Marcelo Corrêa e Flávia Aguiar - O Globo
Indicador recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009. Já são quatro resultados negativos seguidos
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) do segundo trimestre divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE incluem muitos recordes negativos, como indústria e taxa de poupança. Mas um dos números chamou a atenção dos analistas, principalmente por também indicar o que pode vir por aí: o nível de investimento, apontado sobretudo pela taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil.
O índice teve queda em todas as comparações feitas pelo IBGE. Frente ao trimestre anterior, recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009, completando uma sequência de quatro resultados negativos consecutivos. Em relação ao mesmo período de 2013, a contração chegou a 11,2%, também a pior em cinco anos. Com isso, o acumulado em 12 meses, que estava em terreno positivo há quatro trimestres, voltou a ficar negativo, em 0,7%.
Para Silvia Matos, professora da Fundação Getulio Vargas, o dado indica que os próximos meses podem continuar fracos daqui para frente, mesmo depois da contração de 0,6% no segundo trimestre.
— A gente vê que há quatro trimestres o investimento está desabando. Uma parte é explicada pela queda da indústria, que não tem motivos para investir. Por outro lado, esse ciclo de compras de ônibus e caminhões foi temporário. A gente observa que não tem sinal de recuperação rápida — afirma Silvia, que esperava alta de 0,6% do PIB em 2014, e agora revisou a projeção para 0,4%.
QUEDA ACENTUADA E CONTINUADA PREOCUPA
André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, também diz que o número fraco dos investimentos foi o destaque negativo do PIB:
— O resultado foi, por falta de palavra melhor, horrível. O que mais me preocupou foi a queda acentuada e continuada de investimentos. Mostra que a confiança empresarial com o atual governo é muito baixa. Mostra que as medidas, uma política fiscal mais frouxa, não foi suficiente pra melhorar.
Em nota, o banco Goldman Sachs também destacou a queda, comparando o Brasil com outras economias da América Latina, destacando que a taxa de investimento continua baixa, apenas em 16,5% do PIB.
“O Brasil tem uma das menores taxas de investimento entre as maiores economias da América Latina, o que em parte explica o baixo potencial do PIB do país. Além disso, os 14,1% da taxa de poupança são ainda menores que o baixo nível de investimento”, analisou o banco.
EMPRESÁRIO ESTÁ CAUTELOSO AO INVESTIR
Aloísio Campelo, também professor da FGV, diz que as sondagens da indústria indicam uma cautela do empresário brasileiro em investir, em meio a fatores que vão desde a política monetária à incerteza decorrente do período eleitoral.
— Essa intensificação da desaceleração dos investimentos em máquinas e equipamentos tem um fator além da decepção. Em 2014, o governo diminuiu a margem de manobra para fazer medidas para compensar esse quadro. A inflação está relativamente alta, o BC não deve mexer na taxa de juros. Há também uma pitadinha de incerteza em relação ao cenário político. O investimento depende de o empresário estar com pouca ociosidade e ter confiança de que a economia vai crescer — explica Campelo.
Já o banco BNP Paribas destacou a queda dos indicadores de confiança e lembrou que, independentemente do termo usado (recessão técnica, recessão ou estagflação), o Brasil vive um cenário de baixo crescimento e inflação alta, que deve se refletir nos próximos trimestres. A instituição cortou a previsão de crescimento para o ano de 0,5% para zero.