Blog Reinaldo Azevedo - Veja
A “democracia direta” de Dilma é ditadura indireta do PT. Ou: a OAB precisa se preocupar mais com o país e menos com o Zé Dirceu
Onde anda a Ordem dos Advogados do Brasil. Seu Conselho
Federal tem se ocupando, excessivamente a meu ver, de questões transcendentais,
como os terríveis sofrimentos a que estaria submetido, por exemplo, José Dirceu,
e muito pouco com questões de natureza institucional. É claro que estou sendo
irônico, não? José Dirceu passa relativamente bem, obrigado! Ninguém que teve
cassado por um tempo o seu direito de ir e vir livremente está em condições
ótimas, mas vamos falar com seriedade: ele está tendo aviltados os seus direitos
fundamentais???
A OAB vai se comportar como uma entidade que ganhou a
prerrogativa excepcional da República de dizer quem pode e quem não pode ser um
operador do direito ou como um mero sindicatozinho de advogados, preocupada com
questões de apelo quase corporativo?
Por que essa minha cobrança? O
Conselho Federal da OAB leu as barbaridades contidas no decreto presidencial nº 8.243? Seus doutores se
ocuparam dos detalhes da proposta da presidente Dilma, que cria os ditos
“Sistema Nacional de Participação Social” e “Política Nacional de Participação
Social”? São capazes de perceber que o texto agride de maneira frontal o sistema
representativo justamente no que ele tem de mais virtuoso: a igualdade de todos
os indivíduos diante do Estado?
Muitos dirão que essa igualdade é maculada pelas
diferenças sociais, o que é frequentemente verdade. Sabemos que nem todos podem
pagar, por exemplo, os honorários milionários dos advogados estelares dos
mensaleiros. Sabemos que, em parte, ainda vigora a máxima perversa de que
polícia, no Brasil, existe para os três “pês”: pobres, pretos e putas — estas
últimas, não custa notar à margem, no Brasil, começam a ser consideradas,
ultimamente, as únicas virtuosas, mas deixo isso pra lá agora. Tudo isso é
verdade. Mas será que se corrigem desigualdades instituindo uma canga sobre o
Estado?
Com que autoridade e com que legitimidade a presidente
Dilma Rousseff e seu partido definem o que é e o que deixa de ser um “movimento
social” e impõem a sua participação na administração do Estado? Então o
brasileiro comum, agora, é obrigado a ser um militante político caso não queira
se tornar um cidadão de segunda classe? A verdade é que, sob o pretexto de
incluir na legislação brasileira mecanismos de democracia direta, Dilma e o PT
estão é criando a ditadura indireta.
É escandaloso em si que a OAB não tenha se manifestado
até agora sobre essa excrescência.
E noto que, infelizmente, não é a primeira vez que a
Ordem, que tem uma bela tradição de defesa da democracia e do estado de direito,
cochila diante dos arroubos autoritários dos “companheiros”.
A propósito: a OAB goza de alguns privilégios que a
tornam, em certa medida, um órgão público. Está preparada para ser, ela também,
controlada pelos “movimentos sociais”?