O Estado de São Paulo
Nada muito diferente do que já se esperava. A presidente Dilma obteve mais
uma pérola medíocre de crescimento do PIB. Não consegue entregar o prometido,
nem em avanço da atividade econômica nem em investimento.
Mesmo levando em conta a revisão positiva do avanço do PIB de 2013 (de 2,3%
para 2,5%) e da indústria, que cresceu no último trimestre do ano passado mais
do que havia sido anunciado (1,7%, em vez de 1,3%), o desempenho fortemente
insatisfatório deste início do ano, de um crescimento de apenas 0,2% sobre o
último trimestre, é frustrante, especialmente quando se levam em conta outros
parâmetros fracos, como a queda do consumo das famílias sobre o trimestre
anterior, de 0,1%, e a queda do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo),
de 2,1%.
O governo desfila as desculpas esfarrapadas de sempre: o mau desempenho da
economia brasileira é, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
consequência da estagnação da economia internacional e do repique inflacionário
que corroeu o poder aquisitivo. Mas, ministro, a crise externa começou em 2007 e
não é fato novo que explique mais este fiasco. E a inflação em 12 meses está
praticamente no mesmo nível desde o início do governo Dilma.
Chegamos ao ponto em que causa e consequência se compõem para produzir
resultados medíocres. O desempenho sufocante da economia derruba a confiança
tanto do empresário como do consumidor; e o baixo nível de confiança, por sua
vez, também derruba o investimento, a produção e a disposição de mudar. É um
quadro básico que reforça o repeteco fraco para os três trimestres seguintes de
2014, ao contrário do que também disse Mantega.
A aposta do governo é de que a Copa acabará por reativar o consumo e de que a
inflação recuará, fatores que acabarão por reativar o consumo e o PIB. São
hipóteses frágeis de que nem o ministro parece convencido.
A Copa vai reduzir a atividade com mais feriados. As instituições ligadas ao
comércio já avisaram que, em frente da TV, o consumidor não se sente estimulado
a puxar pelo cartão de crédito. De mais a mais, a inflação mensal pode recuar em
alguma coisa, mas, medida em 12 meses, deverá estourar o teto da meta,
possivelmente já em junho e por lá ficar nos meses seguintes.
O momento é de economia tão devagar como antes, quase parando. O gráfico que
mostra o mergulho acentuado da poupança e do investimento ao longo do governo
Dilma explica muita coisa (veja o Confira): se a semeadura é
cada vez menor, a produção também será. São fatores que solapam capacidade de
crescimento econômico.
Não há nenhum elemento novo nas telas de radar que pareça capaz de virar o
jogo ainda este ano e de resgatar a confiança perdida com esse mau desempenho. É
uma situação ruim que tende a se acentuar com a falta de resposta do governo e
com as incertezas trazidas pela própria campanha eleitoral.
CONFIRA:
Esta é a evolução do nível de poupança e de investimento desde 2009.
Poupança e investimento
O cada vez mais baixo nível de poupança reduz a capacidade de investimento.
Mas produz outros efeitos ruins: deixa tanto o governo como o Banco Central com
menos possibilidade de manobra para definir políticas, especialmente a política
cambial. Para crescer a 3% ao ano, o investimento da economia teria de ser de
pelo menos 22% do PIB. O baixo investimento derruba o chamado crescimento
potencial.