sábado, 31 de maio de 2014

"Desalentador", por Celso Ming

O Estado de São Paulo

Nada muito diferente do que já se esperava. A presidente Dilma obteve mais uma pérola medíocre de crescimento do PIB. Não consegue entregar o prometido, nem em avanço da atividade econômica nem em investimento.

Mesmo levando em conta a revisão positiva do avanço do PIB de 2013 (de 2,3% para 2,5%) e da indústria, que cresceu no último trimestre do ano passado mais do que havia sido anunciado (1,7%, em vez de 1,3%), o desempenho fortemente insatisfatório deste início do ano, de um crescimento de apenas 0,2% sobre o último trimestre, é frustrante, especialmente quando se levam em conta outros parâmetros fracos, como a queda do consumo das famílias sobre o trimestre anterior, de 0,1%, e a queda do investimento (Formação Bruta do Capital Fixo), de 2,1%.




O governo desfila as desculpas esfarrapadas de sempre: o mau desempenho da economia brasileira é, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, consequência da estagnação da economia internacional e do repique inflacionário que corroeu o poder aquisitivo. Mas, ministro, a crise externa começou em 2007 e não é fato novo que explique mais este fiasco. E a inflação em 12 meses está praticamente no mesmo nível desde o início do governo Dilma.

Chegamos ao ponto em que causa e consequência se compõem para produzir resultados medíocres. O desempenho sufocante da economia derruba a confiança tanto do empresário como do consumidor; e o baixo nível de confiança, por sua vez, também derruba o investimento, a produção e a disposição de mudar. É um quadro básico que reforça o repeteco fraco para os três trimestres seguintes de 2014, ao contrário do que também disse Mantega.

A aposta do governo é de que a Copa acabará por reativar o consumo e de que a inflação recuará, fatores que acabarão por reativar o consumo e o PIB. São hipóteses frágeis de que nem o ministro parece convencido.

A Copa vai reduzir a atividade com mais feriados. As instituições ligadas ao comércio já avisaram que, em frente da TV, o consumidor não se sente estimulado a puxar pelo cartão de crédito. De mais a mais, a inflação mensal pode recuar em alguma coisa, mas, medida em 12 meses, deverá estourar o teto da meta, possivelmente já em junho e por lá ficar nos meses seguintes.

O momento é de economia tão devagar como antes, quase parando. O gráfico que mostra o mergulho acentuado da poupança e do investimento ao longo do governo Dilma explica muita coisa (veja o Confira): se a semeadura é cada vez menor, a produção também será. São fatores que solapam capacidade de crescimento econômico.

Não há nenhum elemento novo nas telas de radar que pareça capaz de virar o jogo ainda este ano e de resgatar a confiança perdida com esse mau desempenho. É uma situação ruim que tende a se acentuar com a falta de resposta do governo e com as incertezas trazidas pela própria campanha eleitoral.

CONFIRA:



Esta é a evolução do nível de poupança e de investimento desde 2009.

Poupança e investimento

O cada vez mais baixo nível de poupança reduz a capacidade de investimento. Mas produz outros efeitos ruins: deixa tanto o governo como o Banco Central com menos possibilidade de manobra para definir políticas, especialmente a política cambial. Para crescer a 3% ao ano, o investimento da economia teria de ser de pelo menos 22% do PIB. O baixo investimento derruba o chamado crescimento potencial.