Idiana Tomazelli e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo
Demanda das famílias caiu 0,1% em relação ao fim do ano, o pior desempenho desde 2011
O encarecimento do crédito, por causa da alta dos juros, esfriou o consumo das famílias no primeiro trimestre. O resultado foi um recuo de 0,1% em relação aos três últimos meses de 2013, o pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2011. A desaceleração só não foi maior porque a renda do trabalho continuou crescendo acima da inflação.
Além do crédito, economistas citam o alto endividamento, a confiança em baixa e a tendência de expansão cada vez menor da renda como influências negativas para o consumo também para os próximos trimestres. Mesmo assim, a demanda das famílias avançou 2,2% em relação aos primeiros três meses de 2013, o 42.º resultado consecutivo nesta comparação.
“Dois fenômenos distintos explicam isso (a queda do consumo em relação ao quarto trimestre). Apesar de os salários reais terem crescido bastante, o crescimento do crédito das famílias desacelerou”, disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Segundo o IBGE, a massa salarial subiu 4% acima da inflação no primeiro trimestre em relação a igual período de 2013. Por outro lado, o crescimento nominal (sem descontar a inflação) do crédito para pessoas físicas foi de 7,3%, de acordo com dados do Banco Central. “Essa taxa era de dois dígitos em termos nominais. Agora, o resultado foi modesto”, disse Rebeca.
A redução na demanda por crédito foi motivada pela elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central. “No primeiro trimestre de 2013, a média da Selic ficou em 7,1%. No primeiro trimestre deste ano, ficou em 10,4%”, observou Rebeca.
A despeito do panorama ruim, o resultado do consumo das famílias - que responde por mais de 60% do PIB na ótica da demanda - não surpreendeu os analistas. “A queda da confiança (dos consumidores) ocorre há algum tempo. Há redução no ímpeto de compras”, disse a economista Viviane Seda, coordenadora da Sondagem do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Nos três primeiros meses do ano, a confiança do consumidor acumulou recuo de 3,6%. E o clima para o segundo trimestre não é animador: a queda já está em 4,1% entre abril e maio. “Não temos perspectiva de recuperação”, disse.
Tendência. O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, reforçou o coro dos que acreditam em arrefecimento ainda mais intenso no consumo das famílias. “A expectativa é que nos próximos trimestres essa desaceleração continue, pois vivemos condições de crédito mais apertado, o mercado de trabalho começa a mostrar arrefecimento e ainda há incertezas políticas”, avaliou.
Diante deste cenário, o consumo das famílias deve crescer menos neste ano do que os 2,6% verificados em 2013, avaliou o economista João Saboia, professor da UFRJ. “O consumo é combinação de renda e crédito. A renda continua crescendo, ainda que menos, mas pelo lado do crédito tem limites”, disse Saboia, que acredita haver espaço para o avanço do consumo, embora ressalte que esta não pode ser a única fonte de expansão da economia.
Já o consumo do governo aumentou 0,7% no primeiro trimestre de 2014 em comparação aos três meses anteriores, puxado pelos gastos típicos de ano eleitoral. “Esse é um fenômeno comum em ano de eleição. Isso também aconteceu em 2010”, disse Rebeca, do IBGE.