Greves, manifestações - às vezes violentas - nas ruas e os feriados decretados pelas autoridades para dias de Copa do Mundo ajudaram a empurrar ainda mais para baixo os indicadores de confiança do comércio, já bastante afetados pela perda de dinamismo da atividade econômica, a elevação dos juros e a redução do poder de compra dos consumidores decorrente da inflação e da queda do salário real. É o que transparece na Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas referente ao trimestre março/maio, divulgada simultaneamente com a Sondagem da Construção, que indicou forte abatimento do ânimo dos empresários.
As duas sondagens são uma ducha fria na pretensão oficial de alcançar alguma recuperação da economia neste trimestre, transferindo-se as expectativas para o segundo semestre, quando serão realizadas as eleições gerais.
Mas o que há, em especial, nos setores de atividade que produzem bens de maior valor, que apresentam declínio surpreendente, é justamente uma crise de confiança. No comércio, o índice de expectativas caiu 2,6 pontos entre os trimestres encerrados em abril e em maio.
Na construção, o índice trimestral de expectativas caiu 7,7% em abril e ainda mais, 11,4%, em maio. Na comparação mensal, a queda passou de 12,2%, em abril, para 13,4%, em maio.
A desconfiança é maior no segmento de obras de infraestrutura para engenharia elétrica e telecomunicações, o que se explica pela crise por que passa a área de eletricidade. Na comparação mensal, esse segmento cai desde janeiro.
Já na Sondagem do Comércio, a desconfiança é predominante no segmento de veículos, motos e peças, onde o indicador de situação atual registrou 98,1 pontos, numa escala em que 100 pontos é o termo médio, abaixo do qual a situação é negativa. A queda foi de 16,9% em relação ao mesmo trimestre de 2013. Na comparação entre os mesmos meses de 2013 e 2014, houve queda nos demais setores (varejo restrito, material para construção, varejo ampliado e atacado), mas o índice ainda está no campo positivo.
Esgotados os instrumentos de estímulo ao consumo, sem que o varejo dê sinais de retomada, a desconfiança no setor da construção revela que nem os programas voltados para as faixas de menor renda, como o Minha Casa, bastam para infundir ânimo nas quase 700 empresas ouvidas no levantamento.