quinta-feira, 29 de maio de 2014

"Cartas de Nova Iorque: A rua mais famosa de NYC", por Luisa Leme

 Blog do Noblat - O Globo




A Broadway pode ser a rua mais conhecida de Nova Iorque, mas a rua não é única. Há duas Broadways a mais na cidade, no Queens e no Brookllyn, e também outras homônimas em diferentes partes dos Estados Unidos.

Aliás, a Broadway não é uma rua e sim uma estrada que atravessa o estado de Nova Iorque. Para deixar as coisas mais confusas por aqui, existe a rua West Broadway no Soho, e a East Broadway, em uma outra área de Manhattan que hoje é uma extensão de Chinatown.

Por causa de todas essas Broadways, é possível conhecer as ruas e ainda não ser muito experiente com musicais. Se não há bilhetes para o teatro, ou um amigo visitando a cidade hospedado em meio às luzes da Times Square, o nova-iorquino não vai passear muito por lá.

Até que o dia de ir a um musical chega e a gente descobre o por quê da Broadway ser, apesar de duplicada, inconfundível. Os teatros são como um coração da cidade.



As portas dos teatros são discretas, ainda em proporções normais e não como as novas casas de show americanas. As filas se formam em torno de sete da noite, organizadas na calçada, e os fãs de ingresso nas mãos, curiosos pela “stage door” (a porta pela qual o elenco entra e sai), esticam o pescoço para ver os artistas.

Os pôsteres, as luzes, os letreiros...o interior dos teatros é sempre lindo. A vibração é constante e fica mais especial ainda se o musical é o mais aclamado do ano, com uma legião de fãs fiéis e quase nenhum turista. Essa semana, chovia forte em Nova Iorque. Mas para os fãs de Hedwig and the Angry Inch (ou “Hedwig - Rock, Amor e Traição”) era a noite mais bonita do ano.

A segunda edição do musical dos anos 90, que conta a história de Hedwig vindo da Alemanha oriental para os Estados Unidos depois de uma operação fracassada de mudança de sexo, merece todos os elogios. O espetáculo é fantástico, com música, atores, maquiagem, perucas, luzes e produção impecáveis. Mas além da qualidade do show, a platéia sabia porque estava ali, eles entendiam de musical.

Para ver a Broadway de verdade, com o nova-iorquino que tem paixão por produção e “ameaças triplas” (porque os atores sabem cantar, dançar e representar), fuja dos espetáculos veteranos. Esqueça o Rei Leão, a Cinderella e afins…Esses são bem feitos, mas vão dar uma sensação mais parecida com atração turística do que espetáculo. Pague a mais pelo ingresso e evite as opções mais limitadas do guichê da Tkts. Leia sobre as indicações ao prêmio Tony e faça a sua escolha entre as jóias da Broadway.

A Broadway dos musicais (e não dos turistas) reserva encontros com artistas importantes, seguidores que sabem a letra de todas as músicas, a fantasia de se transformar nos sonhos que se tem… E a paixão do nova-iorquino pela arte do teatro, que parece nunca acabar.

Luisa Leme é jornalista e produtora de documentários. Passou pela TV Cultura e TV Globo em São Paulo, e pelas Nações Unidas em Nova York. Mora nos Estados Unidos há sete anos e fez mestrado em relações internacionais na Washington University in St. Louis. Escreve aqui sempre às quintas-feiras. Mantém o blog DoubleLNYC com imagens e impressões sobre Nova York. Twitter: @luisaleme