A “Carta ao Leitor” da VEJA
Une os governos de Lula e Dilma Rousseff o apoio ao que
seus ideólogos chamam de “movimentos sociais”, que nada mais são do que grupos
organizados para servir de massa de manobra aos interesses políticos radicais. O
encarregado de organizar e manter vivos esses grupos é Gilberto Carvalho, que,
de sua sala no Palácio do Planalto, atua como um ministro para o caos social.
Essa pasta, de uma forma ou de outra, existe em todos os governos populistas da
América Latina e se ocupa da cínica estratégia de formar ou adotar grupos com
interesses que não podem ser contemplados dentro da ordem institucional, pois
implicam o desrespeito às leis e aos direitos constitucionais.
Ora são
movimentos de índios que reivindicam reservas em áreas de agronegócio altamente
produtivas e até cidades inteiras em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, ora
são pessoas brancas como a neve que se declaram descendentes de escravos
africanos e querem ocupar à força propriedades alheias sob o argumento
improvável de que seus antepassados viveram ali. A estratégia de incitar esses
grupos à baderna e, depois, se vender à sociedade como sendo os únicos capazes
de conter as revoltas é a adaptação moderna do velho truque cartorial de criar
dificuldades para vender facilidades.
Brasília assistiu, na semana passada, a uma dessas
operações. Alguns índios decidiram impedir que as pessoas pudessem ver a taça da
Copa do Mundo, exposta no estádio Mané Garrincha. A polícia tentou reprimir o
ato, e um dos silvícolas feriu um policial com uma flechada. Atenção! Isso
ocorreu no século XXI, em Brasília, a cidade criada para, como disse o
presidente Juscelino Kubitschek no discurso de inauguração da capital, há 54
anos, demonstrar nossa “pujante vontade de progresso (…), o alto grau de nossa
civilização (…) e nosso irresistível destino de criação e de força construtiva”.
Pobre jK. Mostra uma reportagem desta edição que progresso, civilização e força
construtiva passam longe de Brasília. As ruas e avenidas da capital e de muitas
grandes cidades brasileiras são território dos baderneiros.
Há três meses, o MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra, mandou seus militantes profissionais atacar o Planalto. Gilberto Carvalho
foi até a rua, onde, depois de uma rápida conversa, se combinou que Dilma
receberia os manifestantes. “O MST contesta o governo, e isso é da democracia”,
explicou Carvalho, o pacificador, que, com um dedo de prosa, dissolveu o cerco
feroz.
O MST é um movimento arcaico, com uma pauta de reforma agrária do século
passado em um Brasil com quase 90% de urbanização e 80% da produção dos
alimentos consumidos pelos brasileiros vinda da agricultura familiar. Por
obsoleto, já deveria ter desaparecido.
Mas Carvalho não permite que isso ocorra.
O MST faz parte do exército de reserva e precisa estar pronto se convocado. Foi
o que se deu na semana passada, quando João Pedro Stedile, um dos fundadores do
movimento, obediente ao chamado do momento, atirou: “Só espero que não ganhe o
Aécio Neves, porque aí seria uma guerra”. É impossível não indagar: contra quem
seria essa guerra? A resposta é óbvia: contra a vontade popular e contra a
democracia.