Cristiane Bonfanti - O Globo
- Cerca de 80% dos técnicos da autarquia em todo o país protestam por mudanças na carreira e dizem que não reivindicam aumento salarial
Cerca de 80% dos técnicos do Banco Central realizam paralisação de 24 horas em todas as sedes da autarquia nesta quarta-feira, de acordo com o Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central (SinTBacen). Os servidores querem a modernização da carreira, com exigência de curso superior para ingresso no cargo.
De acordo com o presidente do SinTBacen, Igor Nóbrega, diretores do sindicato se reuniram, em Brasília, com representantes do Ministério do Planejamento para discutir a carreira, mas não houve avanço. O último acordo fechado entre os servidores do Banco Central e o governo foi para um reajuste de 15,8%, em três parcelas anuais entre 2013 e 2015. Segundo Nóbrega, no entanto, ao assinar o termo, o governo se comprometeu a negociar a reestruturação da carreira de especialista, que inclui analistas e técnicos.
O presidente garantiu que os servidores voltarão ao trabalho nesta quinta-feira, mas o sindicato deve realizar uma assembleia ainda esta semana para aprovar um indicativo de greve a partir de 10 de junho.
- Se até o dia 10 não tivermos uma posição concreta do governo, entraremos em greve por tempo indeterminado - afirmou Nóbrega. - Alguns diretores conversaram com a assessoria da ministra (Miriam Belchior). O que houve foi mais uma medida protelatória - acrescentou.
Segundo o sindicato, no caso do atendimento ao público, a paralisação dos técnicos atinge, basicamente, o setor de call center. O Banco Central oferece um serviço por meio do qual os cidadãos podem obter informações sobre assuntos de responsabilidade da autarquia, fazer reclamações contra instituições financeiras fiscalizadas pelo BC ou encaminhar críticas, sugestões ou elogios relacionados aos serviços prestados pelo próprio órgão.
Além da exigência de curso superior para o cargo de técnico, os servidores reivindicam o que chamam de “enriquecimento” das atribuições dos analistas. Devido a carências de funcionários, segundo o sindicato, há analistas trabalhando, por exemplo, no setor de protocolo do Banco Central.
- A nossa luta é pela reestruturação dos cargos. Nosso movimento não tem viés salarial - disse o presidente.
A paralisação dos técnicos ocorre no último dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a mais importante dos últimos tempos, uma vez que deve encerrar o ciclo da alta da taxa básica de juros (Selic). Na avaliação de Nóbrega, no entanto, a greve não afeta a reunião do colegiado.
- Nossa ideia não é, de maneira alguma, prejudicar o Banco Central, muito menos a reunião do Copom. Temos legalidade, legitimidade e informamos a paralisação ao Banco Central - afirmou. - A paralisação afeta atividades como a distribuição de dinheiro nas praças, a vigilância, o setor de informática e o atendimento ao público - disse.
Outra reivindicação discutida nas assembleias dos servidores é um reajuste do salário dos técnicos. O sindicato quer que a remuneração inicial do técnico seja equivalente a 70% do valor pago para os analistas em início de carreira. Com isso, pelos dados do Ministério do Planejamento, a remuneração inicial do técnico passaria de R$ 5.421 para cerca de R$ 10 mil. O presidente do SinTBacen garantiu, no entanto, que essa discussão deve ocorrer a partir de 2015 e 2016 e que o pedido de modernização da carreira não implica impacto nas contas públicas.