sábado, 1 de fevereiro de 2014

O PAC funciona. Em Cuba


Editorial (Carta ao Leitor) de VEJA

Com a Argentina virando Venezuela e a Venezuela virando Zimbábue, o Brasil teve em mãos – e perdeu – uma oportunidade excepcional de demonstrar ao mundo quanto somos diferentes dessas nações inviáveis, desprovidas de justiça funcional, sistema político sadio e instituições sólidas.

Era a chance de o Brasil erguer a cabeça acima da manada de países minados pelo populismo irresponsável e ser visto pela comunidade financeira internacional como a referência de estabilidade, serenidade e compromisso com o desenvolvimento e o progresso social na América Latina.

Mas a presidente Dilma Rousseff não percebeu o momento. Na tradicional reunião econômica em Davos, diante de uma audiência de grandes investidores, a presidente fez um discurso redundante (“o controle da inflação e o equilíbrio das contas públicas são essenciais”; “a estabilidade da moeda é um valor central”) e insuficiente para reacender o interesse internacional pelo Brasil.

Depois de uma controversa escala em Portugal, Dilma voou para Cuba, onde confraternizou com a gerontocracia comunista.

Uma reportagem desta edição de VEJA mostra como a emissão desses sinais desconexos prejudica a imagem do Brasil, que nada tem a ganhar com a presença de Dilma na inauguração de um porto cubano feito, sob contrato secreto, com dinheiro dos contribuintes brasileiros.

Muito dinheiro: 682 milhões de dólares.

Isso tudo depois que a Sunrise, a maior trading de importação da China, anunciou o cancelamento da importação de 2 milhões de toneladas de soja do Brasil por causa de atrasos provocados pelo congestionamento no embarque em nossos portos.

São fatos tão desastrosos que até a sonolenta oposição brasileira se sentiu revigorada. O senador Aécio Neves resumiu a situação:

“Finalmente, a presidente Dilma inaugurou sua primeira grande obra. Pena que não foi no Brasil”.

Antes se dizia, com metáfora gasta, mas válida, que o Brasil deveria deixar de querer ser o primeiro vagão do Terceiro Mundo para se concentrar em ser o último do Primeiro Mundo. Por ofensiva, essa divisão hierárquica do planeta com base na renda per capita caiu em desuso.

Mas, no que diz respeito ao Brasil, é melancólico constatar que o governo não demonstra interesse em nos engajar no grupo das nações industrializadas e competitivas.

Somos percebidos hoje como um país de menor potencial do que a Colômbia e o Chile, o México e até o Peru.

O contraste mais marcante entre o Brasil e esses novos tigres latino-americanos não está apenas no desempenho econômico. A diferença não é de grau. É de natureza.

Colômbia, Chile, México e Peru, sejam seus presidentes mais à direita ou mais à esquerda, pouco importa, abandonaram a pesada carga de atraso que historicamente carregavam para se inserir na corrente civilizatória baseada na economia de mercado como o grande motor do desenvolvimento.

O governo brasileiro, no entanto, insiste em flertar com o abismo