Guilherme Fiuza chegou aos dez mais vendidos com sua coletânea Não é a mamãe – para entender a era Dilma, que cheguei a comentar aqui. Merecido. O livro é uma radiografia excelente dos últimos anos de hipnose coletiva no Brasil. Resta saber se agora terá de escrever o Não é a Madre – para entender a era Marina, como ironizou nosso editor.
Em sua coluna de hoje, Fiuza fala do desespero que a turma do PT deve estar sentindo com o risco real de perder suas boquinhas e ter de, finalmente, trabalhar de verdade. Marina Silva chegou para abalar as estruturas da acomodação parasitária dos petistas. Claro, o risco de essa “elite vermelha” tentar se “esverdear” para preservar tetas gordas é grande, como reconhece o jornalista ao término do texto:
Pode-se imaginar o movimento fervilhante nas centrais de dossiês aloprados. Há de surgir na Wikipédia o passado tenebroso dos adversários de Dilma Rousseff. Logo descobriremos que foram eles que sumiram com Amarildo, que depenaram a Petrobras, que treinaram a seleção contra os alemães. É questão de vida ou morte: como se sabe, a elite vermelha terá sérias dificuldades de sobrevivência se tiver que trabalhar. Vão “fazer o diabo”, como disse a presidente, para ganhar a eleição e não perder a gerência da boca.
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O PSDB, como os outros partidos, adora vender contos de fadas. Mas seu candidato, Aécio Neves, resolveu anunciar previamente o seu principal ministro. Eis a sutil diferença entre o compromisso e a conversa fiada.
Marina Silva também é uma boa notícia. Só o fato de ser uma pessoa íntegra já oferece um contraponto valioso à picaretagem travestida de bondade. Nunca é tarde para o feminismo curar a ressaca dos últimos quatro anos. O que seria um governo Marina, porém, nem ela sabe. Se cumprir a promessa de Eduardo Campos e empurrar o PMDB S.A. para a oposição, que grande partido comporia a sua sustentação política? Olhe em volta e constate, com arrepios, a hipótese mais provável: ele mesmo, o PT — prontinho para a mudança, com frete e tudo.
Marina vem do PT e está no PSB, cujo ideário é de arrepiar o maior sonho cubano de José Dirceu. E tentar governar acima dos partidos foi o que Collor fez. Que forças, afinal, afiançariam as virtudes de Marina? A elite vermelha está pronta para se esverdear.
Marina já sinalizou que pretende governar usando os melhores quadros do PT e do PSDB, para colocar para escanteio as raposas velhas do PMDB. Resta saber que quadros bons tem o PT! No mais, retórica à parte, há claros indícios de que, ao menos na economia, Marina vem flertando com o modelo tucano.
As presenças de Eduardo Giannetti e Andre Lara Resende atestam isso, assim como o programa divulgado ontem, que defende até a independência de Banco Central, o fim dos preços represados e o tripé macroeconômico com um estado mais enxuto. A ponto de o brincalhão e humorista que posa de pensador, Emir Sader, fazer o seguinte comentário em seu Twitter:
Eis que Marina já virou, para a esquerda retrógrada, uma representante do estado mínimo! Deixando a gargalhada de lado, é notável que a ex-petista vem fazendo um esforço na direção correta. O discurso de Marina tem tido viés claro de oposição ao governo atual. Não faria sentido algum compor com o próprio PT depois. Seria uma traição aos seus eleitores. Claro que tudo é possível, que Marina é uma incógnita, e que seu passado é, afinal, petista. Mas seria bastante estranho e contraditório.
Que o PT vai oferecer seus “serviços”, caso derrotado, não resta dúvida. Mesmo depois de massacrá-la em um jogo sujo e baixo, como só o PT sabe fazer. Rato magro quando chega ao poder não larga o osso facilmente, nem depois de ficar obeso. Mas Marina faria bem em deixar muito claro que rejeitará qualquer parceria com essa turma, que não aceitará o vermelho “convertido” em verde da noite para o dia.
Mesmo sendo ela uma “melancia” (verde por fora, mas vermelha por dentro), as chances de vitória real como oposição ao PT devem jogá-la mais para o centro, especialmente na economia, adotando o maior bom senso dos tucanos. Marina assinou ontem sua “Carta ao Povo Brasileiro”, como fez Lula em 2002. Lula cumpriu o prometido, ao menos no começo, e depois enganou a todos. E Marina, fará o mesmo? Quem viver, verá.