Quanto tempo “The Big Bang Theory” precisa ficar no ar para ser reconhecida?
De todos os prêmios com os quais anualmente a indústria americana do entretenimento se autocelebra, o Emmy é o mais chato de todos. Na última segunda-feira, quando foram entregues os troféus para os supostos melhores programas de televisão da temporada passada, o Emmy cumpriu sua tradição: foi chatíssimo. Todos os anos, a cerimônia de premiação erra ao não cumprir um mandamento básico no gênero: surpreender o espectador. O bom de entrega de prêmios é a certeza de que um azarão pode ser lembrado, uma novidade pode ser lançada, enfim, como dizia Johnny Alf, que o inesperado faça uma surpresa. Isso nunca acontece no Emmy. Qual é a graça de enfrentar três horas de discursos se, no fim das contas, a melhor série cômica é sempre “Modern family”, a melhor série dramática é sempre “Breaking bad”, os melhores atores de série cômica são sempre Jim Parsons e Julia Louis-Dreyfus, os melhores atores de série dramática são sempre Julianna Margulies e Bryan Cranston? Quanto tempo “The Big Bang Theory” precisa ficar no ar para ser reconhecida pelo Emmy?
Quantos espectadores mais “Game of thrones” precisa conquistar para, enfim, ser premiada como a melhor série dramática? Após “Breaking bad” receber sua penca de prêmios, só ficou um consolo: como o seriado já encerrou sua carreira, ele não estará concorrendo no ano que vem. É uma chance de o Emmy ir para algum programa que tenha morrido na praia nos últimos anos, como “Downton Abbey”. Ou para alguma novidade da temporada, papel que pertenceu a “True detective” neste 2014. “True detective” chegou à cerimônia de premiação cheio de gás, principalmente pela certeza de que Matthew McConaughey era barbada para o Emmy de melhor ator em série dramática. Levou um prêmio de roteirista e olhe lá. O conservadorismo na premiação tem transformado a noite do Emmy numa noite de tédio.
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Com as indicações para “House of cards” e “Orange is the new black”, a Netflix foi a grande vencedora do Emmy até a noite de segunda-feira. Depois da cerimônia, a Netflix tornou-se a grande perdedora da noite. Não ganhou nemmenção honrosa.
Houve um tímido sopro de renovação na categoria de minissérie ou filme para TV. “Fargo”, o melhor programa do ano, ganhou dois prêmios. Mas por que “Fargo” foi indicado nesta categoria enquanto “True detective” concorria a seriado dramático? Qual a diferença de gênero entre os dois?
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Por falar em seriados, a recente legislação que estimula a produção de programação brasileira nas TVs por assinatura tem feito crescer o gênero por aqui. Nunca tantas séries estrearam em tão pouco tempo nas nossas emissoras. Mas, por enquanto, tudo tem cara de cinema brasileiro dos anos 80. Para o bem e para o mal. A fotografia lembra a daqueles tempos, os diálogos também. A cenografia é tal e qual. E a temática... bem, certamente o Brasil está batendo o recorde de seriados que investigam a prostituição feminina no país.
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O livro é pequenininho. São só 173 páginas num formato que beira o livro de bolso. O título é simples: “Teatro”. Só isso: “Teatro”. Mas o autor é David Mamet, simplesmente o mais importante dos dramaturgos americanos vivos. Por isso mesmo, “Teatro” merece toda a atenção. É basicamente uma coleção de pequenos ensaios, quase sempre dirigidos a atores, que destrói alguns mitos da encenação contemporânea, como a importância do diretor e a excelência do método Stanislavski. “Teatro” é sobretudo provocador. Deixo aqui uma das provocações de Mamet como exemplo. No caso, é sobre dramaturgia:
“Assim como o assunto escolhido não deve ser abordado em forma de lição, a poesia dramática (o texto) deve entreter. Deve ter andamento rápido (por que se estender em uma questão que já foi abordada?) e possuir toda a fluidez, força rítmica e beleza sinfônica de que o autor seja capaz. Ou seja, seria bom se o dramaturgo soubesse escrever. A julgar por esses parâmetros, talvez se descubra que as obras de Eugene O’Neill não são as obras-primas que alguns clamam ser (a menos que por obra-prima se entenda peça de museu).”
Mais uma? Aqui, Mamet derruba os ensaios convencionais: “Não há necessidade nenhuma de investigar as supostas motivações ou emoções dos personagens. Por quê? (1) Elas não existem e (2) a plateia vai descobri-las, à medida que for necessário, a partir do texto encenado. Por que então essas semanas intermináveis ao redor da mesa? (Observe que, quando chega a hora de realmente encenar a peça — ou seja, de decidir quem vai ficar na frente ou nos fundos do sofá no palco —, a coisa se acelera em duas tardes.)”
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Sou do tempo em que a grande novidade na família era o relógio de pulso à prova d’água. Nunca deu certo. É por isso que não entendo todo esse oba-oba com a nova geração de smartphones à prova d’água. Pra quê?