Blog Ricardo Setti - Veja
Por Neil yeah yeah yeah Ferreira, publicado no Diário do Comércio
AS NOTÍCIAS MAIS QUENTES DESTE SÉCULO
A 1ª notícia mais quente deste século até agora: Sir Paul McCartney, a.k.a Macca, and Sir Richard Starkey, a.k.a Ringo Starr, Knights of the British Empire, (KoBE), juntos no palco do Grammy 2014, quase mataram o véio aqui do coração.
A 2ª notícia mais quente deste século: a temperatura média desta semana em São Paulo, de uns 40 graus com sensação térmica de uns 70 e tantos, que não mataram este véio que vos fala de canícula porque foi uma friagem perto da 1ª, que esquentou corações e mentes dos velhinhos da geração Flower Power, a mesma que deu um nó mais do que irônico numa campanha presidencial dos Estados Unidos.
A campanha, chupada de Henri de Bourbon, da França, não o Louis 51, que você sabe quem é, prometia aos famintos sans-culottes “Uma galinha em cada panela”, em francês, na língua alonsanfã. Na campanha , o slogan era o mesmo em inglês, eu estava lá. Os marqueteros apareceram com a tradução: “A chick em every pot”, a mesma “Uma galinha em cada panela”.
Os hippies destroçaram essa promessona, nível Miss Piggy, aqui na Banânia Mãe do Pac, Programa de Ajuda a Cuba, sendo Pai o notório Louis 51.
Com o slogan invertido, que foi parar nos noticiários de TV do fim da tarde, do horário nobre às 8h e 9h da noite, das “late news” da meia noite e os da manhã do dia seguinte, a ripongada gritava “A pot em every chick”; eu vi.
“A pot in every chick” é “Uma dose em cada galinha”, sendo “pot” uma “dose” do quer que alguém enfiasse na corrente sanguínea pra ir bater no cérebro, desde a Mary Juana, aos moranguitos (strawberries), aos brownies turbinados. “Chick” , galinha, também significava a menina enturmada (“groupie”) que dava pra todo mundo.
“Uma dose em cada galinha (cada menina)” acabou com o slogan “Uma galinha em cada panela”, com o humor e o teatro das ruas, usados como armas da revolução da inteligência. Como toda revolução da inteligência, essa também deu em nada.
“Interdit d´Interdire “, maio de 68 em Paris, acabou numa canção medíocre do Caetano Veloso, quem diria. Dany Le Rouge virou verde, Dany Le Vert, não mais barricadas na Rue de La Sorbonne, com Jean Louis Barrault como cumpanhero de lutas; verde politicamente correto, longe dos guerrilheiro das ruas. Nossos verdes, segundo meu entendimento, também não fedem nem cheiram, como se diz na cidadezinha onde nasci.
Eu me lembro das passeatas contra a guerra do Vietnã; dos “buttons” e cartazes “War is good business, invest your son”, “Guerra é bom negócio, invista seu filho” e “Oh Lee Harvey Oswald, where are you now we need you sou much” – “Oh Lee Harvey Oswald, onde você está agora que precisamos tanto de você”, este claramente contra o Presidente Lyndon Johnson.
Há nas redações um ditado interessante: “Quando um cachorro morde um homem não é notícia; quando o homem morde o cachorro é notícia”. Há outro: “Quando o cachorro balança o rabo não é notícia; quando o rabo balança o cachorro é notícia”.
O cachorro aqui mordeu o Chicão; e o rabo do cachorro aqui balançou o cachorro aqui, sob a violenta emoção que me assaltou e me domina até agora. Vimos ao vivo, eu e metade do universo, os dois Beatles remanescentes. Isso sim é que é notícia, não uma certa presidente mordendo cachorros por causa da sua foto com olheiras profundas, me lembrei do filme “Eyes Wide Shut”, “De olhos Escancaradamente Fechados” (1999, Kubrick). É o que ela deveria fazer, fechar os olhos e cair fora de fininho.
Separados há muitos anos, os dois ex-Beatles juntaram-se de “surpresa” para uma canja que colocou ajoelhados de puro êxtase meus olhos e ouvidos.
Vi ambos entrarem ao mesmo tempo, Sir Ringo vindo da esquerda do palco, lépido, feliz, nos seus mais de 70 anos e Sir Macca vindo da direita, ainda não chegado aos 70 , sob uma tempestade de aplausos das feras da música pop contemporânea e de big stars de todas artes. Até a Bruxa Japonesa do Mal Absoluto teve a cara de pau de ir à primeira fila chacoalhar seus ossos buchenwaldianos, especialmente pra me fazer uma desfeita pessoal; fez.
Esses músicos cresceram como eu envelheci: ouvindo e se perguntando o que esses caras têm que ninguém mais tem. Nem Elvis, nem Michael Jackson, nem Jagger, embora eu escute os Stones com os olho cheios d’água, cantando “She´s a rainbow” que me faz chorar por uma canção como quando era jovem.
Bob Dylan era e é o meu bardo; fantástica a “Tweeter and the Monkey Man”, que ele fez com os “Traveling Wilburys”, uma banda de gênios que durou apenas dois álbuns; perda irreparável.
Sir Ringo e Sir Macca fizeram em dueto mágico “It don´t come easy” um hino dedicado pelos ex-beatles Sires Paul, George e Lennon ao ex-Beatle Sir Ringo, para seu primeiro álbum solo, de 1972.
Era mais uma vez o humor contando uma história séria. Ao ser formada a banda que se transformaria nos Beatles pelos pouco mais que adolescentes Paul, George e Lennon, diz a lenda urbana que Paul e Lennon eram os líderes, singers song writers; George o talento musical e Ringo apenas disse “sim” quando procuravam um baterista.
Descobriu-se que Ringo deu um duro danado pra ser baterista dos Beatles, o que não é mole. É o que digo em casa cada vez que um problema duro de resolver se apresenta e ameaça os ânimos: “It dont come easy”, “Não é moleza”.
Sir Macca e Sir Ringo estão tão afinados como se tocassem juntos há 50 anos; e tocam. Por falar em 50 anos: eles gravaram uma participação no show de 50 anos de sua primeira aparição nos Estados Unidos, então apresentada no programa de Ed Sullivan. Esse show receberá o título de “A Noite que Mudou a América”; e mudou o resto do mundo.
Ofereço algumas lágrimas a “Hey Jude”, de Sir Paul, meu hino e de quem conhece o meu coração.
Escrevo pra mim mesmo, eu mesmo ouço: “Hey Jude, don´t carry the world upon your shoulders”.
Não ligo a mínima se uma certa presidente torra nossos $urreais em Davos e em banquetes em Lisboa, berrando que paga suas contas. Paga, com o nosso dinheiro. Que se lixem pelo menos agora, que estou em estado de graça, amém.