Ex-primeira-dama é franca favorita nas primárias do Partido Democrata
Mesmo sem anúncio oficial, a campanha já conta com propaganda na TV e com eventos de arrecadação de fundos
RAUL JUSTE LORES, DE WASHINGTON - Folha de São PauloMesmo sem anúncio oficial, a campanha já conta com propaganda na TV e com eventos de arrecadação de fundos
Quando questionados sobre a candidatura a presidente da ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama Hillary Clinton, é difícil para qualquer político democrata em Washington não começar a frase com "eu conheço Hillary muito bem", ou "somos muito amigos" ou "jantei com ela no mês passado".
Em uma cidade onde o "name-dropping" (cantar a todos os ventos suas conexões com gente importante) é um cacoete permanente, todos querem divulgar a sua intimidade com Hillary --que ainda não anunciou a sua esperada candidatura.
Pesquisa divulgada na quinta-feira pelo jornal "Washington Post" diz que Hillary é a favorita para as primárias democratas para 73% dos eleitores do partido; seus dois maiores rivais, o atual vice Joe Biden e a senadora Elizabeth Warren, têm apenas 12% e 8%, respectivamente.
A diferença de 61 pontos percentuais entre ela e o segundo colocado é maiúscula quando comparada à primeira vez em que Hillary foi a presidenciável favorita, em dezembro de 2006, um ano e meio antes das primárias de 2008: ela, então, tinha 39% sobre o segundo colocado, o senador Barack Obama, que tinha 17%.
Com a economia dando sinais de recuperação todos os meses e a oposição republicana sofrendo com diversos candidatos pequenos (e o favorito, o governador de Nova Jersey, Chris Christie, envolvido num escândalo de abuso de poder), para muita gente Hillary já saboreia o clima de "já ganhou", a dois anos e nove meses das eleições de novembro de 2016.
A revista dominical do jornal "The New York Times" até publicou uma reportagem de capa sobre as enormes disputas que já acontecem no "planeta Hillary", inclusive dividindo grupos e subgrupos dos mais próximos à candidata em satélites.
Já há anúncios (pagos) na TV ligados ao movimento "Ready for Hillary" (prontos para Hillary, em inglês) e festas para arrecadação de fundos de campanha.
"Além do clima de já ganhou', o maior obstáculo para Hillary será convencer o público americano de que ela realmente tem fome de ser presidente, em vez de parecer que se trata de um direito adquirido", disse à Folha a estrategista democrata Donna Brazile, que trabalhou nas duas campanhas do marido de Hillary, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001).
PROBLEMAS
Começa a incomodar o círculo próximo da candidata o "hiperativismo" do seu sucessor no Departamento de Estado, John Kerry. "Seu desejo de deixar uma marca e de correr riscos com Irã e com Israel/Palestina o torna um secretário de Estado mais ativo", escreveu Mark Landley no "New York Times".
Ela, que teve atuação apagada no Oriente Médio (dizem que Obama concentrou temas importantes na Casa Branca, deixando com Hillary a promoção de direitos femininos, dos gays e da imagem do país no exterior), já estaria tentando resgatar vitórias em seu mandato para evitar comparações.
Mas, segundo dois operadores do partido confidenciaram à Folha, pedindo anonimato, o maior desafio à candidata é a virada à esquerda do Partido Democrata.
Acostumada a receber US$ 200 mil por palestra e íntima de vários doadores bilionários, para muitos Hillary precisaria se afastar dessas amizades e, como Obama, começar a falar mais sobre desigualdade social e críticas a Wall Street.
Para esses operadores, Hillary precisaria encampar um discurso antissistema similar ao que Obama usou em 2008 --e que, portanto, já custou a Hillary uma grande derrota.