O segundo turno da eleição para mandato-tampão do governador de Tocantins, realizado no domingo passado, mostrou que a soma de votos brancos e nulos com as abstenções chegou a 51,83% do total de pessoas aptas a votar. Esse porcentual representa 527.868 eleitores e supera a soma dos votos conquistados pelos dois candidatos que disputaram o segundo turno: 490.461.
Estatísticos, cientistas políticos, jornalistas especializados em política e outros buscam entender o que aconteceu em Tocantins. Seria o desinteresse por uma eleição extemporânea? Dificuldades de locomoção do eleitor? Distanciamento da população em relação aos políticos? Desesperança? É possível que seja uma soma de tudo isso a razão que levou a números que chamaram tanto a atenção. (É preciso lembrar que mesmo na condição verificada em Tocantins, em que a soma de abstenções e votos brancos e nulos ultrapassou a dos votos nos candidatos, a eleição vale. Qualquer notícia diferente é fake news. E elas circulam a rodo por aí).
Mesmo que o cenário brasileiro seja de muita incerteza e que não se verifique, pelo menos por enquanto, grande empolgação em relação às eleições de outubro, que se avizinham, ninguém se arrisca a dizer que abstenções, brancos e nulos vão passar dos 50%. Calcula-se que entre 60% e 65% comparecerão às urnas, o que permite trabalhar com um eleitorado em torno de 90 milhões e 100 milhões, levando-se em conta que o número de eleitores deverá chegar perto dos 150 milhões.
Portanto, os candidatos que disputarão a eleição presidencial, os governos estaduais, o Senado, a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas devem levar em conta que terão de cavar o voto num universo que se situa entre 60% e 65% do eleitorado.
Os candidatos à Presidência que apareceram até agora estão muito longe daquilo que se pode chamar de liderança. Nem mesmo Lula, que está preso e mostra uma impressionante capacidade de permanecer nas mentes das pessoas, seja do ponto de vista positivo, seja do ponto de vista negativo, pode almejar para si essa função. Ele lidera o PT, não há dúvida nenhuma. Mas não o Brasil. Os 33% a 38% do eleitorado que dizem votar nele ainda são minoria. E não é possível perceber em Lula, dada a divisão da sociedade brasileira e de um discurso de confronto dele e do PT, capacidade para unificar o País. Esse líder ainda não existe. Ou, se existe, está escondido, talvez à espera de notícias melhores da política e do País.
Quanto aos partidos, simplesmente são ignorados pelo eleitor. Veja-se pesquisa do DataPoder360, divulgada na terça-feira, sobre a preferência do eleitorado de Minas Gerais. No cruzamento com a disputa presidencial, o tucano Geraldo Alckmin (SP) receberia apenas 10% dos votos do senador Antonio Anastasia, do PSDB, que disputará o governo e está à frente, com 27% da preferência do eleitorado, contra 15% do governador Fernando Pimentel (PT) e 9% do ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB). Já o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) receberia 54% dos votos do eleitor de Anastasia.
Por que os votos do PSDB ao candidato a governador não chegam ao candidato do mesmo partido à Presidência, mas a Jair Bolsonaro? Porque o eleitor mineiro provavelmente ainda se lembra do governo de Anastasia, faz uma associação com o de Pimentel, que passa por uma crise política, econômica e ética danada e conclui que deseja o tucano de volta. Quanto a Alckmin, o fato de pertencer ao PSDB não faz nenhuma diferença. Como ninguém quer saber também a quais partidos pertencem Jair Bolsonaro, Marina Silva ou Ciro Gomes. O voto será dado no nome. Não do partido.
O Estado de São Paulo