quinta-feira, 28 de junho de 2018

Região com mais brasileiros, Boston é cheia de história



Em outubro, as árvores são quase todas de algum tom entre amarelo e vermelho, paisagem exótica e hipnótica de linda para nós dos trópicos. Depois de um domingo no parque, se pode visitar um museu magnífico, mas arrumado como se fosse uma casa, na verdade inspirada em um palácio italiano do século 15, o Isabella Stewart. Ainda não está tão frio, dá para velejar no rio Charles, perto de Harvard.

Prédios no centro de Boston visto do parque Boston Common, que existe há quatro séculos
Prédios no centro de Boston visto do parque Boston Common, que existe há quatro séculos - David L. Ryan/The Boston Globe via Getty Images
Turismo na região de Boston é um tanto assim, mais cabeça e de delicadezas do que de paisagens imensas, compras e farras. 
Mas também há diversão mais pop, aldeias do século 17 e até dá praia nesse lugar em que neva em cinco dos meses do ano.
Massachusetts é um dos lugares mais civilizados dos Estados Unidos. Boston e redondezas são o centro e o início dessa civilização americana mais refinada e progressista.
O Mayflower aportou ali perto, em 1620, com uma centena de puritanos, os “pilgrims” (sim, aqueles do Dia de Ação de Graças), onde hoje é Plymouth, cidadezinha a 45 minutos de carro de Boston. 
Lá se pode visitar a Plimoth Plantation, uma reconstituição da colônia, um museu vivo do cotidiano dos colonos. Atores circulam em trajes de época, trabalham e falam como então. O lugarejo tem lagosta ótima e barata.
Em Boston começou a revolta das colônias contra o rei inglês, o Boston Tea Party (o protesto contra impostos), as primeiras escaramuças da guerra de independência, em 1775. Casas e prédios da época podem ser visitados em uma caminhada na Freedom Trail (Trilha da Liberdade), começando pelo centro histórico, um clássico do turismo patriótico deles.
É muita história? No verão, quando faz mais de 30 graus, pode-se ir a Cape Cod (uma hora e meia de carro) e Martha’s Vineyard (ilha próxima). 
As vilas são civilizadas, a comida é boa, há praias bonitas e algumas são parques nacionais, desertas, como a do Cape Cod National Seashore. De Cape Cod, como de Boston, se pode pegar um barco para ver baleias.
Para ver Boston, é preciso passear por Beacon Hill, com suas ruas calçadas de pedras e casas de tijolos vermelhos, onde moravam os quase aristocráticos Brahmin, os ricos. Por ali está o Nichols House Museum, que é isso mesmo, um museu da casa bostoniana do século 19. É preciso passear pelo BostonCommon, um parque lindo, com 400 anos, vizinho do bairro elegante de Back Bay e suas lojas caras.
Em Cambridge, quase um bairro de Boston, estão Harvard e o MIT. Harvard vale ao menos pela beleza do campus principal, o “yard”, de quase 400 anos, e por um passeio pelas redondezas, em especial pela Brattle Street.
É uma rua de mansões coloniais e casas históricas, muito verde e perfumada no verão. Um dia, vi o que parecia ser um bando de esquilos gigantes na calçada. Eram coelhos, sim, que zanzam por ali.
Com crianças, vá ao Museu de História Natural de Harvard, seus bichos empalhados perfeitos, esqueletos de animais extintos etc. Ainda em Cambridge fica o cemitério Mount Auburn. É um parque muito bonito de quase 200 anos, em Boston o melhor lugar para ver as cores do outono (suba na torre para ver a paisagem impressionista e impressionante).
Para quem ainda quiser combinar o circuito cabeça-natureza é preciso visitar o parque onde fica o lago Walden (40 minutos de carro). Lá se pode nadar e fazer trilhas. Foi onde o escritor Henry Walden Thoreau (1817-1862) viveu dois anos em uma cabana de madeira, experiência que inspirou um clássico americano (“Walden, uma Vida nos Bosques”), uma espécie de autobiografia espiritual e uma crítica da sociedade industrial.
Quando ir? Faz frio e neva de novembro a março, com mínimas de 15 graus negativos em dezembro e janeiro e máximas médias de três graus no inverno. O outono é a estação mais linda da Nova Inglaterra.
A região de Boston é a que concentra o maior número de brasileiros que vivem no exterior (350 mil pessoas, segundo estimativa do Itamaraty). A maioria deles vive longe das graças turísticas, em cidades periféricas como Framinghan e Everett, onde 10% da população é de brasileiros que trabalham na construção civil e serviços domésticos. Se sentir falta de feijoada, tem por lá.

Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo