Sim, admito: é preferível ser novo-rico a não ser rico. Mas isso não invalida o óbvio: novo-riquismo é deprimente.
Conheço casos: fulano vivia modestamente com o dinheiro do seu trabalho. Certo dia, deu certo nos negócios —ou na política, o que é a mesma coisa— e passou a ostentar a riqueza com uma alegria grosseira, estridente, quase paranoica.
Sem falar do desprezo instintivo que o novo-rico sente pelo velho-pobre. Nesse quesito, a soberba do novo-rico faz lembrar a piada dos amigos judeus que passam junto a uma igreja com um cartaz à porta: “Cinco dólares por conversão”.
Os amigos debatem o assunto. Um deles decide entrar na igreja para fingir a conversão e ganhar o dinheiro.
Passam horas. Quando sai da igreja, o amigo que ficou à espera pergunta, exasperado: “Trouxe os 5 dólares?”
Resposta do outro: “Mas vocês judeus só pensam em dinheiro?”
Lembrei da piada por causa do futebol. Circulo por Lisboa e, nas conversas mais banais, concluo que os meus compatriotas sofrem de novo-riquismo futebolístico.
Houve um tempo, antes da virada do milênio, em que Portugal era especialista em “vitórias morais”. Basicamente, essas “vitórias” eram derrotas que o povo suavizava com a beleza do nosso futebol.
Que interessava perder por 5 x 0 quando, em matéria de dribles, a humanidade nunca tinha visto coisa assim?
Tudo mudou: em poucos anos, as “vitórias morais” viraram vitórias reais. E as virtudes do passado —imaginação, improviso, ousadia— são hoje olhadas com desprezo e embaraço.
A Copa da Rússia é o melhor exemplo: Portugal passou às oitavas depois de um empate com Espanha, uma vitória sobre o Marrocos e novo empate com o Irã. Mas interessante é escutar o paternalismo dos lusos sobre marroquinos e iranianos. “Jogaram muito bem”, dizia um comentador na TV. Para acrescentar: “Pareciam Portugal vinte anos atrás.” Todos riram no estúdio.
Eis o cinismo do novo-rico: “vitórias morais” são coisa de pobre. E o novo-rico detesta pobres. E agora?
Agora, vem o Uruguai, campeão do mundo em 1930 e 1950. No fundo, um velho-rico com história e títulos.
É o adversário ideal para quem sonha com as quartas: o novo-rico respeita e admira os velhos-ricos. Embora pressinta, lá no íntimo, que as glórias passadas não pagam as contas das glórias presentes.
Folha de São Paulo