Dois preguiçosos que se tornaram vagabundos estão esperando um certo Godot que não sabem direito quem é. Assim se desenrola a peça de Samuel Beckett Esperando Godot, escrita em 1949 em meio às incertezas do pós-guerra e em um mundo ainda desorganizado pelo conflito. O Brasil de hoje vive tempos de espera. A espera de alguém que venha dar alguma ordem à confusão institucional em que estamos metidos. Entre os que esperam, vejo com especial interesse os que desejam que o centro reformista se organize e faça valer seu peso histórico frente a uma esquerda dividida e abatida pelos escândalos revelados nas investigações da Operação Lava-Jato.
O centro reformista fora da política está no mercado financeiro e no empresariado urbano. Eles gostariam que a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) deslanchasse e se impusesse como altamente competitiva. No entanto, a cada pesquisa realizada em torno das intenções de votos dos eleitores, Godot não aparece. Alguém sempre surge para dizer que Godot vem amanhã. Só que ele não aparece.
Por que digo que o centro reformista está pouco ativo? Pela dificuldade na busca de entendimento. O que fazer? Basicamente, testar outros nomes e fórmulas. Talvez tenha passado o tempo de o PSDB ser o cabeça de chapa do centro reformista. O certo é que vivemos na velocidade dos tempos digitais, e a campanha do centro reformista corre em ritmo de bolero. A espera de Godot pode custar caro a esse viés da política nacional.
Para o mundo reformista não político, o pior é que os partidos que integram esse universo não se importam muito com quem vai ganhar as eleições presidenciais. Eles estão preocupados é com a eleição da Câmara dos Deputados. Com bancadas gordas poderão controlar o próximo presidente, seja ele quem for.
Mas a intensidade e a velocidade da agenda reformista dependerão de um presidente verdadeiramente reformista. Até agora não surgiu um candidato competitivo no centro político nacional. Ainda dá tempo, mas o tempo está passando perigosamente rápido. E, depois da Copa do Mundo, tudo vai se acelerar na política.
Nas próximas semanas, o centro vai se consolidar ou se dividir em uma ou duas candidaturas. O lugar de Geraldo Alckmin (PSDB), com a imensa rejeição que ostenta nas pesquisas, não é seguro como representante preferencial do centro. Álvaro Dias (PODEMOS) e Henrique Meirelles (MDB) tampouco empolgam. Assim, perguntamos, novos protagonistas no centro político podem surpreender? Talvez sim.
Murillo de Aragão é cientista político