A campanha de João Doria (PSDB) quer evitar o clima de já ganhou, mas não esconde a expectativa de vitória no primeiro turno da disputa pelo governo paulista.
O otimismo foi reforçado nos últimos dias, com o anúncio da candidatura do apresentador José Luiz Datena (DEM) ao Senado e a vinda do PP para a coligação de Doria.
Nesta quarta (27), no intervalo do jogo do Brasil, a reportagem perguntou a Doria qual era o impacto da entrada de Datena para a chapa. "Acelera", respondeu. No primeiro turno? "Acelera. Não podemos perder a humildade", desviou.
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No mesmo bar, no bairro da Mooca, em São Paulo, onde o tucano viu o Brasil vencer a Sérvia, aliados contavam sorrindo que Doria faz reunião de manhã, de tarde e de noite e briga como se houvesse até um terceiro turno.
Mas as pesquisas internas encomendadas pela campanha apontam para um caminho mais curto, segundo aliados relataram à Folha.
A rejeição ao tucano, que explodiu na capital paulista depois que ele renunciou à prefeitura com um ano e três meses de mandato, começa a se apaziguar, afirmam.
No interior, ainda de acordo com os auxiliares, os números indicam que Doria empolga o eleitorado como aconteceu em 2016, ao ganhar no primeiro turno a eleição municipal.
Ciente do desgaste no ambiente paulistano, Doria se calçou para chegar bem ao interior. Acertou com o DEM para ter como vice na chapa o deputado Rodrigo Garcia (DEM), que foi secretário de Habitação do governo Alckmin, pasta na qual pode entregar 130 mil moradias em quatro anos.
A chegada de Datena reforça a expectativa de domar a rejeição. Popular apresentador de televisão, Datena não tem o desgaste da classe política tradicional e personifica a revolta contra a violência pública —um dos principais temas da campanha eleitoral.
No entorno de Doria, o apresentador é considerado um candidato dos sonhos e a chapa, um "dream team", que a campanha anunciará nesta quinta (28), em São Paulo.
O pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, foi convidado, mas cumprirá agenda no interior do Paraná.
O ex-governador também foi convidado para assistir ao jogo no bar com Doria, mas ficou em casa com os netos. "Hoje eu estou aqui com o eleitorado familiar", explicou, sorrindo, em um vídeo.
Para a campanha de Alckmin, a chegada de Datena é positiva. Pode dar fôlego ao tucano em São Paulo, onde ele perdeu terreno para Jair Bolsonaro (PSL). Mas o ex-governador ainda resiste a percorrer o estado com Doria.
Observadores da política paulista afirmam que Alckmin se prejudica mais que Doria ao evitar o seu palanque, ainda que o gesto incomode ao ex-prefeito.
O presidenciável do PSDB teme melindrar o governador candidato à reeleição Márcio França (PSB), com quem Doria está em franca disputa.
O ex-prefeito conseguiu tirar o PP da chapa de França, enfraquecendo o governador politicamente e, de quebra, somando mais tempo de televisão para sua campanha.
Aliados ficaram tão satisfeitos que disseram que, com a adesão, tornou-se menos necessário trazer o MDB e seu pré-candidato a governador, Paulo Skaf, para a coligação.
O emedebista carregará o peso de ser o candidato do presidente Michel Temer (MDB), o mais impopular da história recente.
É pelo mesmo motivo que aliados de Alckmin querem evitar uma aliança com o MDB e consideram positiva a pré-candidatura de Henrique Meirelles pelo partido.
Pelo raciocínio, Meirelles atacará Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT) para se afirmar e arcará com o desgaste de Temer, poupando Alckmin, cujo partido integrou o governo.
Resta ao presidenciável tucano garantir o apoio do DEM e seu consórcio (PP, Solidariedade e PRB), que também flerta com Ciro. Segundo um integrante do grupo, isso daria a Alckmin 45% do tempo de TV da campanha, o que é considerado um trunfo para ele passar para o segundo turno presidencial.
Thais Bilenky, Folha de São Paulo