quinta-feira, 28 de junho de 2018

O plano da GE para tentar se reerguer


Esta deveria ter sido uma das semanas mais sombrias da história da General Electric (GE). A empresa fundada por Thomas Edison fazia parte do Dow Jones Industrial Average, o índice do mercado de ações que abrange as líderes entre as empresas americanas, há mais de um século. Infelizmente, a má administração e o fracasso em andar no ritmo dos novos tempos transformaram o antigo ícone da inovação em uma bagunça desordenada e onerada por dívidas. As ações da GE caíram para menos de um quarto do seu valor de pico em 2000. Em 26 de junho a GE foi tirada do índice Dow e substituída pela Walgreens Boots Alliance, uma grande empresa de cuidados de saúde.
No entanto, no mesmo dia, um raio de sol também caiu sobre a GE. John Flannery, um insider conhecido por suas habilidades em complicadas operações matemáticas, que assumiu o comando da empresa em agosto passado, anunciou os detalhes do tão aguardado plano de reestruturação. Nos próximos dois anos, a GE fará a separação (spin off) de sua divisão de assistência médica e liberará sua nova participação na Baker Hughes, uma empresa de serviços de petróleo. Ele já havia confirmado anteriormente a venda de sua divisão de locomotivas. Juntas, essas três unidades geram cerca de US$ 40 bilhões por ano, cerca de um terço da receita anual da empresa.
General Electric
Ações da GE caíram para menos de um quarto do seu valor de pico em 2000 
Foto: Jim Young/Reuters
O preço das ações da GE subiu diante das notícias. A razão óbvia para comemorar era promessa renovada de Flannery de enxugar o pesado conglomerado, incluindo o compromisso de cortar suas dívidas líquidas e obrigações com pensão em US$ 25 bilhões. Ele também prometeu reduzir US$ 500 milhões adicionais em custos, além de cortes anteriormente anunciados, até 2020. Além dessa disposição de empunhar o machado, o plano de Flannery para colocar a GE em ordem tem três elementos atraentes: podem ser chamados de “spinners” (tornar produtos e negócios lucrativos), “spin-offs” (criação de subsidiárias) e “spinning down” (baixar a bola).
Primeiro, o plano permite que a administração se concentre nas atividades básicas de geração de energia, aviação e renováveis (o que as pessoas na empresa chamam de “coisas que giram”). Esse conjunto produz cerca de US$ 70 bilhões por ano em receita. 
A divisão de energia da GE, que gera cerca de metade dessas receitas, está particularmente com grandes problemas. Uma combinação de má administração, investimentos mal calculados e fraca demanda global a deixaram em crise. A divisão está eliminando cerca de 12 mil trabalhadores, quase um quinto de sua força de trabalho global. Cumprir a promessa da GE de continuar “dimensionando corretamente o negócio” para atender a uma demanda menor exigirá muito trabalho.
Em segundo lugar, a reestruturação está sendo feita de uma maneira ponderada que deve gerar valor para os acionistas. Em vez de, digamos, vender a lucrativa unidade de saúde a um comprador estratégico em troca de uma rápida infusão de dinheiro, Flannery a tornará uma empresa autônoma. Ele dará 80% de suas ações para os acionistas da GE (que dessa forma capturarão quaisquer ganhos financeiros futuros) e venderá o restante. Uma pesquisa de Emelie Feldman, da Wharton Business School, mostra que tais spin-offs criam valor de duas maneiras. Livres dos pais autoritários, as novas entidades tornam-se mais eficientes na alocação de capital. Curiosamente, sua pesquisa mostra que as empresas de desinvestimento também melhoram seu desempenho financeiro depois de um spin-off.
Nova cultura. A terceira razão para se alegrar é o desejo de Flannery de reformar a cultura administrativa da GE. Esta semana ele lançou um “novo Sistema Operacional da GE”, que promete uma tomada de decisões e uma burocracia menos centralizada, e uma redução dos recursos da matriz para as unidades de negócios. A inchada diretoria da GE foi substituída por uma menor, mais relevante, que inclui Ed Garden, co-fundador do Trian, um investidor ativista. Para Steven Winoker, do UBS, um banco de investimento, essa é a mais importante de todas as reformas. Ele elogia os novos diretores como “pessoas afiadas e úteis”.
A estrada à frente permanece instável. A empresa pode ser forçada a reduzir seu dividendo novamente, admite Winoker, o que resultará em protestos de investidores. Ainda assim, se o seu ousado plano for bem-sucedido, Flannery terá moldado uma GE mais humilde, que ainda pode sobreviver outro século. 
The Economist
Tradução de Cláudia Bozzo