RICARDO BRANDT, ANDREZA MATAIS, FÁBIO FABRINI e FAUSTO MACEDO - O ESTADO DE S. PAULO
Suspeita de envolvimento de braço direito de ex-senador na arrecadação do PP mostra que caso Petrobrás ainda tem tentáculos ocultos
Uma rede de operadores funcionava como correia de transmissão entre contratos superfaturados, empreiteiras e partidos políticos no escândalo da Petrobras. Para a força-tarefa da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef hoje já não é mais visto como o “funil” exclusivo no esquema de corrupção para quem confluíam as propinas antes da pulverização.
Nos últimos dias, a força-tarefa da Operação Lava Jato passou a investigar um homem apontado como o segundo operador do PP no esquema. Henry Hoyer de Carvalho, de 64 anos, identificado como Henry pelo doleiro em depoimento à Justiça Federal, é sócio em duas empresas e já foi assessor do ex-senador Ney Suassuna (PSL-PB).
Seu nome também havia sido identificado pela Polícia Federal nas agendas do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa antes do depoimento de Youssef. “Reunião com Maurício e Henry 6/9/12”, anotou Costa em uma agenda de 2012 e 2013 apreendida na Lava Jato.
Na agenda foi anotado um endereço atrás do Shopping Barra Garden, no Rio,onde teria ocorrido o encontro, que a PF identificou como sendo de “Henry Hoyer de Carvalho, ex-assessor do senador Ney Suassuna em 2006”. A existência de um segundo captador de propina a serviço do PP, somada aos operadores do PMDB, indica que a extensão, cifras desviadas e patentes dos envolvidos exigiam uma organização quase industrial para manter o esquema em funcionamento, segundo os investigadores.
Henry consta como diretor executivo da Associação Comercial e Industrial da Barra da Tijuca (Acibarra), presidida há anos por Suassuna. De abril a novembro de 2005, ele foi assessor no gabinete do ex-senador. Os dois também foram sócios em duas empresas: Sunisa S/A, uma holding de instituições não financeiras, e Rivertec Informática. Ambas já foram fechadas, conforme registros da Receita Federal.
Henry foi exonerado do gabinete de Suassuna no Senado em 2005, quando o então líder do PMDB foi investigado por supostamente favorecer a Empresa Brasileira de Assessoria e Consultoria (Embrasc) em contrato assinado com a Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio (Cedae), em 2000. Conforme os procuradores, um dos intermediários do negócio foi Henry. Em junho de 2013, o Supremo Tribunal Federal acatou pedido da defesa de Suassuna e extinguiu a punibilidade no caso por prescrição de prazo.
Hoje, Henryé sócio do Centroshopping Participações Ltda, em Vitória, e do escritório de cobrança Unidos. Seu endereço é uma mansão na Barra da Tijuca.
Segundo operador. Em depoimento em 8 de agosto, na Justiça Federal, em Curitiba, onde estão os processos da Lava Jato, Youssef confessou ser operador do PP em nome do ex-deputado José Janene (PP-PR) –morto em 2010 –e indicou um segundo movimentador de propina. Os dois atuavam nos contratos bilionários da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás. Por meio dela, que foi assumida por Costa em 2004, a pedido de Janene, o PP recolhia 1% de todos os grandes contratos da área na estatal.
E desses 1% da Diretoria de Abastecimento, era o senhor que fazia a distribuição?”, perguntou na audiência o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato. “Sim, senhor. Grande parte disso era eu que operava, mais a frente também tinha outros operadores”, respondeu Youssef.
O magistrado perguntou quais seriam os outros operadores”.Tinha Fernando Soares (o Fernando Baiano), que operava com Paulo Roberto Costa, para o PMDB. E tinha um outro que se chamava Henry, que também operava quando o Partido Progressista perdeu a liderança. Aqueles líderes antigos, da turma do sr. José (Janene), perderam a liderança, aí entrou esta pessoa Henry pra que pudesse fazer operações pra eles”, afirmou.
Durante a semana o Estado tentou contato com Henry em sua casa, na Acibarra e em suas empresas, mas ele não ligou de volta. O jornal enviou perguntas por e-mail, sem resposta.