Thiago Herdy - O Globo
Suspeito de exigir propina recebia passagens de primeira classe
Suspeito de receber pelo menos US$ 100 milhões em propinas como gerente executivo de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco desfrutava de regalias bancadas pela estatal, como viagens em primeira classe, durante viagens para representá-la no exterior, apontam documentos obtidos pelo GLOBO.
Por ser funcionário do segundo escalão, Barusco tinha direito a viajar apenas em classe econômica ou executiva. Em 2007, no entanto, ao viajar para a Offshore Technology Conference (OTC), maior feira de petróleo do mundo, em Houston, nos EUA, foi autorizado a voar na primeira classe pelo simples fato de acompanhar o então diretor de Serviços, Renato Duque, também acusado, hoje, de corrupção.
“O empregado irá de primeira classe, porque acompanha o diretor Renato de Souza Duque”, justificou o funcionário da Petrobras que efetuou a reserva. O mesmo ocorreu em viagens naquele ano a Olivedo e Barcelona, na Espanha, e, no ano seguinte, à Coreia do Sul.
Quando viajava sozinho, Barusco também ia de primeira classe, após ser autorizado por Duque, de quem era braço-direito na estatal. Isso ocorreu em viagens de trabalho para Cingapura, na China, em 2005, para entrega de cascos das plataformas P-52 e P-54; para Dubai, nos Emirados Árabes, em 2008; e a Xangai, em 2010.
Perguntada pelo GLOBO sobre o motivo das autorizações a Barusco e que mecanismos dispõe para evitar abusos do tipo, a Petrobras não quis se pronunciar. Procurado, Barusco também não comentou.
Os bilhetes de primeira classe do ex-gerente custaram entre US$ 7 mil e US$ 22 mil, valores que variavam de acordo com o destino. Em geral, tarifas de primeira classe dão direito a poltronas totalmente reclináveis, refeições com menu assinado por chefs renomados e, em alguns casos, até banheiro exclusivo com chuveiro.
Antes de viajar a Cingapura, em 2005, Barusco escreveu a Duque reconhecendo que sua função não lhe daria direito, pelas regras da empresa, a voar em primeira classe. No entanto, pediu que o direito lhe fosse concedido por causa de “dores na coluna e na região lombar”, e por considerar viagens longas “extremamente penosas”.
Funcionário da Petrobras entre 1979 e 2010, o ex-gerente foi citado na Operação Lava-Jato por fornecedores da Petrobras que afirmaram ter pago propina a ele e a Duque para fechar contratos. Suas atividades na estatal são alvo da investigação da Polícia Federal e também da CPI do Congresso Nacional que investiga corrupção na petroleira.