domingo, 30 de novembro de 2014

Governo Dilma ´trambique` só volta a se preocupar com o crescimento em 2017… Até lá, o esforço é para pôr fim à esbórnia

Valdo Cruz - Folha de São Paulo

Foco em ajuste fiscal durará dois anos

Em segundo mandato, Dilma deve cortar gastos e elevar juros para só depois se concentrar em promover crescimento
Assessores esperam altas maiores de taxa, e, em busca de choque de credibilidade, aperto pode vir ainda este mês


Depois do fracasso da chamada nova matriz econômica, lançada pelo ministro Guido Mantega, o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff vai ser marcado por dois anos de juros mais altos e corte de gastos, seguido por dois anos de foco na maturação de medidas voltadas ao crescimento do país.

A primeira fase da política econômica --caso Dilma dê autonomia à sua nova equipe-- terá como objetivo levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, ao final de 2016, e colocar em ordem as contas públicas gradualmente nos próximos três anos.

Como o ajuste fiscal será gradual, no início do trabalho da nova equipe caberá ao Banco Central de Alexandre Tombini a tarefa maior, o que ele já tem deixado claro.

A sinalização é de um possível aumento da dose de alta da taxa de juros, hoje em 11,25% ao ano, como parte do choque de credibilidade que o novo time formado ainda por Joaquim Levy e Nelson Barbosa, novos ministros da Fazenda e Planejamento, vai aplicar na economia.

Segundo avaliam assessores presidenciais, esse aperto monetário pode vir nesta semana, com o Banco Central elevando os juros em 0,50 ponto percentual, em vez do 0,25 da mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em outubro.

Dobrar a dose do aumento, segundo assessores, estaria em sintonia com os últimos discursos de Tombini e sua equipe, que têm indicado que o BC vai se manter "especialmente vigilante" para conter os efeitos do dólar em alta e do reajuste de preços administrados, como a conta de luz, sobre a inflação.

Outro caminho, não descartado no cenário de economia estagnada, seria manter o aumento de 0,25 ponto percentual, mas sinalizar que o ciclo de alta tende a ser mais longo do que o previsto diante da pressão inflacionária.

Nas palavras de um assessor presidencial, o segundo mandato de Dilma terá, em sua primeira metade, mais a cara da dupla Levy/Tombini. Na segunda, mais a de Nelson Barbosa. O trio, destaca o auxiliar, vai trabalhar em sintonia porque o sucesso de uma fase depende da outra.

Ele lembra que Levy tem destacado a importância de fazer o país voltar a crescer para melhorar as contas públicas, enquanto Barbosa ressalta que, sem ajuste, o país não retomará a confiança para acelerar o crescimento.

NOVA MISSÃO

O futuro ministro do Planejamento ganhou a missão de preparar medidas voltadas a retomar o crescimento econômico, que vai seguir baixo nos dois primeiros anos do segundo governo Dilma.

O ritmo fraco da economia em 2015 foi a razão, segundo Levy, para fixar a meta de superavit primário (economia de gastos para pagamento dos juros da dívida pública) em 1,2% do Produto Interno Bruto. Nos dois anos seguintes, ela será de ao menos 2%.

Não é possível acelerar o crescimento no curto prazo, nas palavras da nova equipe, sem pôr em risco a saúde econômica e a continuidade do avanço das políticas sociais.

A missão de Barbosa é, nesta fase de vacas magras, preparar ações para estimular o investimento nacional e estrangeiro no setor produtivo. Daí a decisão de transferir para o Ministério do Planejamento a coordenação dos programas de concessões do governo, incluindo o programa de banda larga.

A avaliação feita pela nova equipe com Dilma é que a saída para a retomada do crescimento passa pelo aumento do investimento do setor privado, já que a capacidade de investir do Estado nos próximos três anos será limitada.