Isabel Braga, Eduardo Bresciani e Evandro Éboli - O Globo
Colegiado dará parecer sobre deputados acusados na Lava-Jato
A expectativa de que o ano de 2015 comece com uma crise na Câmara devido ao possível envolvimento de dezenas de deputados no escândalo da Petrobras acelerou a disputa, nos bastidores, pelo comando do Conselho de Ética. Ali são julgados os deputados acusados de quebra de decoro parlamentar. A decisão final é do plenário, mas, como essa votação agora é aberta, o peso de um parecer do conselho pela cassação deve ser cada vez maior para direcionar o futuro dos investigados. Uma amostra será dada na votação desta semana em plenário sobre o caso de André Vargas (sem partido-PR), que mantinha uma ligação próxima com o doleiro Alberto Youssef, segundo a Polícia Federal.
O atual presidente do colegiado, Ricardo Izar Filho (PSD-SP), já anuncia sua candidatura à reeleição. Está ciente, no entanto, das dificuldades que terá pelo caminho. Seu partido é da base do governo, ocupa ministério e deve continuar na Esplanada. Em 2013, sua legenda se recusou a indicá-lo. Izar Filho só chegou ao colegiado graças ao PSDB, que o indicou. Ele afirma que não aceitará continuar no cargo se a missão for de engavetar processos.
— Pretendo disputar a reeleição. Mas não de um Conselho de Ética que seja um engavetador-geral de todas as denúncias e processos que chegarem lá. Aí, prefiro nem estar ali — disse Izar Filho.
A tensão na Câmara é grande por não se saber ainda quais deputados foram citados nas delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef e se tornarão alvo de pedidos de inquérito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Por isso, os partidos deverão ter atenção redobrada nas indicações que farão para o Conselho.
No discurso, deputados do PT admitem que não há muito interesse na bancada para as indicações. A ida para o colegiado, pelo desgaste que traz, é vista como missão. O deputado Sibá Machado (PT-AP), que é do atual conselho, diz que só continuará se for a pedido do partido.
— Ninguém quer fazer de lá um lugar de crescimento. É um lugar chato. Os petistas têm outras agendas. Mas seja quem for o escolhido, terá que ter seriedade na condução. O conselho terá que analisar caso a caso e não fazer das denúncias que vierem contra políticos uma roleta- russa — disse Sibá.
O PT atacou a forma como Izar conduziu o processo contra Vargas e sinaliza resistência à sua permanência. Existe a mesma crítica em relação a Júlio Delgado (PSB-MG), que relatou o caso de Vargas e o do ex-ministro José Dirceu. Delgado é citado por alguns parlamentares como possível candidato ao conselho, mas seu plano é disputar a presidência da Câmara.
Outro nome que aparece no páreo é o do deputado Marcos Rogério (PDT-RO). Derrotado em 2013 por apenas um voto na disputa pelo comando do conselho, Rogério foi relator do processo de Luiz Argôlo (PSD-BA), que teve o pedido de sua cassação aprovado. Rogério é próximo do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), favorito à presidência da Câmara. No ano passado, o peemedebista foi pessoalmente ao conselho e ameaçou paralisar os trabalhos da Câmara se o pedetista não fosse eleito.
Cunha, porém, evita comprometer-se novamente com o aliado e diz que tudo dependerá da composição decorrente da eleição para o comando da Casa:
— Defendi o Marcos Rogério porque defendo o cumprimento de acordos políticos. Tudo terá que ser tratado com tranquilidade no Conselho de Ética.
Ex-presidente do colegiado por 4 anos, José Carlos Araújo (PSD-BA) é outro nome lembrado. Ele nega que seja candidato, mas diz que não recusaria a indicação. Defende que o conselho passe a ter mais poderes e funcione com prerrogativas como as de uma CPI, principalmente para poder convocar pessoas que possam ajudar na investigação.