Setor automobilístico recorre a todos expedientes para driblar ociosidade; paradas em dezembro e janeiro superam as de anos anteriores
Nunca tantas montadoras recorreram aos lay-offs (suspensão temporária de contratos de trabalho), a férias coletivas, semanas curtas de trabalho e programas de demissão voluntária num único ano. Em 2014, esses expedientes foram adotados em quase todos os meses, numa espécie de rodízio entre a maioria das empresas para driblar a ociosidade das fábricas, que supera os 20%.
O cenário culmina com um fim de ano de férias coletivas mais longas do que em anos anteriores em várias empresas. Fabricantes como Ford, General Motors, Mercedes-Benz e Volvo darão folgas de quatro a cinco semanas, quando o tradicional são duas a três semanas.
A Mercedes-Benz, por exemplo, inicia nesta segunda-feira um período de cinco semanas de férias coletivas nas fábricas de São Bernardo do Campo (SP) e de Juiz de Fora (MG), o mais longo nos últimos dez anos na empresa, que também tem 1,2 mil trabalhadores em lay-off.
A Ford vai parar por quatro semanas, o dobro do ano passado. A GM é outra que dará ferias de um mês para o pessoal de São Caetano do Sul (SP) e de São José dos Campos (SP), onde também há lay-off em andamento. Na Volvo, de Curitiba (PR) a parada será de 30 dias, dez a mais que no ano passado.
Grande maioria dos trabalhadores de montadoras, entre horistas e mensalistas, ficará em casa neste fim de ano. Nas autopeças, 80% das empresas também vão parar por períodos que acompanham as montadoras, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Só na base do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, 255 empresas informaram que darão férias coletivas, num total até agora de 8.860 pessoas, boa parte delas de autopeças.
“De 2000 para cá, este foi o ano que teve mais paradas de produção”, constata o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. Uma exceção citada por ele nesse período é 2001, quando o racionamento de energia levou várias fábricas a interromperem a produção seguidas vezes no segundo semestre.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, concorda que tem sido um ano forte em férias coletivas e lay-off, “efeito principalmente do primeiro semestre, quando as vendas caíram mais fortemente em razão do pessimismo geral com a economia”.
Dispensa temporária. O lay-off consiste em dispensa do trabalhador por até cinco meses. Nesse período, ele recebe parte do salário da empresa e parte do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e faz cursos de requalificação. Também deixa de recolher FGTS e INSS.
Usado esporadicamente nos últimos anos, em 2014 o lay-off foi adotado por sete montadoras, algumas delas em mais de uma fábrica. A maioria dos programas ainda está em andamento (leia quadro ao lado).
“Nos últimos 20 anos nunca tinha visto uma situação dessas em nossa base”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Aparecido Inácio da Silva. “Pela primeira vez temos lay-off nessa fábrica da GM, tivemos férias coletivas em junho e PDV (programa de demissão voluntária)”.
Silva informa que no início deste ano as metas estabelecidas com a direção da empresa para a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) era de produção de 285 mil veículos. “Agora estamos torcendo para que chegue ao menos a 230 mil”.
Ociosidade. Até outubro, a produção de todas as montadoras apresenta queda de 16% em relação ao ano passado, com 2,677 milhões de unidades. A previsão da Anfavea para o ano todo era 3,340 milhões de unidades (10% a menos que em 2013), volume que dificilmente será atingido. Mesmo que fosse, representaria uma ociosidade de 22%, pois as empresas, segundo a Anfavea, têm capacidade atual para produzir 4,3 milhões de veículos anualmente.
Apesar de todas as ações adotadas para reduzir a produção, os estoques nos pátios de montadoras e revendas continuam elevados, na casa das 400 mil unidades. As medidas também não evitaram demissões. O setor cortou 10 mil postos de trabalho neste ano e emprega 147 mil pessoas, o menor contingente desde maio de 2012.
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Na sexta-feira, a Volkswagen confirmou que abrirá um PDV em janeiro na fábrica de São Bernardo. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a empresa alega que há 2,1 mil trabalhadores excedentes na unidade, que emprega cerca de 13 mil pessoas, entre profissionais da produção e administrativos.