A imprensa portuguesa batizou de Artista dos Azulejos o anônimo amante da verdade que, com apenas duas obras, subverteu radicalmente as regras que regulam a denominação de lugares públicos. Tradicionalmente, placas de metal sobre postes ou coladas à fachada de um prédio exibem uma data histórica ou o nome de algum morto ilustre e recente, eventualmente adornado pela atividade profissional em que se destacou.
As imagens acima comprovam que o misterioso artesão lusitano não simpatiza com farisaísmos. Ele optou pela montagem de paineis com azulejos decorados com motivos típicos em azul e amarelo. Em vez de gente que se foi, prefere pais-da-pátria muito vivos. O nome do alvejado pela constrangedora homenagem é sempre escoltados por substantivos que resumem o prontuário.
Em outubro de 2011, concluído o trabalho de estreia no Porto, o Largo de Mompilher virou “Eng. José Sócrates”, que acabara de deixar o poder. O painel formado por seis azulejos qualificou-o de “Mentiroso, Corrupto, Incompetente, Primeiro-ministro de Portugal 2005-2011”. O que parecia ofensa ficou com cara de profecia: preso há uma semana, Sócrates é acusado de fraude fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro. Vai continuar na gaiola até encontrar explicações convincentes para os muitos milhões de euros que andou embolsando.
Em janeiro de 2012, o segundo ataque clandestino surpreendeu os moradores de Oeiras, vila situada nos arredores de Lisboa. Dois azulejos bastaram para transformar a Rua 7 de Junho de 1759 em Rua Isaltino Morais, o presidente da Câmara de Oeiras que, condenado a uma temporada na cadeia, continuava em liberdade. Uma situação intolerável, garantiram as três palavras que erguerem um monumento à objetividade entre parênteses: “corrupto, criminoso e político“.
Até um guido mantega pode adivinhar prever que, daqui a alguns anos, ruas, avenidas, praças ou rodovias estarão eternizando os incontáveis delinquentes que hoje espancam o Código Penal disfarçados de servidores da nação. A coluna sugere ao timaço de comentaristas que se mire no exemplo do homem do azulejo e reduza desde já as dimensões da vigarice.
Sem o uso de termos impublicáveis, como ensina o pai da ideia, vamos contar num punhado de sílabas o que fazem um Lula, uma Dilma, um Gilberto Carvalho, um Mercadante, um Jucá, um Renan e tantos outros colossos da Era da Mediocridade. Ao teclado, amigos.