domingo, 30 de novembro de 2014

"O efeito colateral em 2016", por João Bosco Rabello

O Estado de São Paulo


Se, de um lado, tem potencial para devolver ao País a estabilidade econômica, de outro, o programa de recuperação fiscal anunciado pela nova equipe econômica se constitui em fator de agravamento da perda de densidade eleitoral do PT nas eleições municipais de 2016.
Sua extensão por três anos submete o partido à receita impopular para correção de rumos, consequência da gestão populista amparada na fartura de crédito e consumo, e na ilimitada farra de gastos públicos, revogada pela realidade econômica que impôs à presidente Dilma Rousseff uma guinada ortodoxa, à revelia de suas convicções.
Por instinto de sobrevivência, a presidente busca salvar seu segundo mandato, atenta à sua biografia e à meta de viabilizar o retorno de Lula em 2018. Ambos, Dilma e Lula, aos tapas e beijos, como na canção sertaneja, cuidam de administrar a reação da militância ao que o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), chama de "apenas uma etapa".
Costa, afinado com o ainda secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, age na linha preventiva de amenizar o efeito da desilusão do eleitorado petista já registrada na recente eleição de outubro, em todos os níveis. É quase inútil, mas é o que resta ao partido.
A economia respira por aparelhos e a gestão anunciada de Joaquim Levy e Nelson Barbosa representam seu ingresso na UTI, desmoralizando o discurso de campanha da presidente Dilma Rousseff, mas também indicando a pouca serventia da pergunta mais frequente nas rodas políticas e econômicas - se é para valer a renúncia da presidente ao seu modelo econômico.
A realidade pode revogar convicções ou, em escala menor, simplesmente arquivá-las compulsoriamente, à falta de outra saída.
Dilma se insere em uma dessas duas circunstâncias, mas decifrar qual delas a move torna-se secundário diante da inevitabilidade do receituário e do longo prazo de sua aplicação.
Alinhado ao drama político produzido pelas investigações na Petrobrás, o cenário para o governo representa o fim do projeto de poder do PT, que o levou ao delírio de instalar na estrutura do Estado um sistema de corrupção política de dimensões jamais vistas, capaz de banalizar a prática histórica no País.
À oposição, em um primeiro momento, a nova equipe econômica impõe a dificuldade de contestar escolhas que representam seu público e seu discurso.
Será preciso descolar-se da indignação com a aplicação pelo governo da receita que denunciava como crime contra a população, para adotar comportamento estratégico na missão fiscalizadora que lhe foi delegada pela quase metade do eleitorado de 2014.