Rennan Setti - O Globo
Negócio dará fôlego para operadora brasileira fazer proposta pela TIM
LISBOA e RIO - A francesa Altice divulgou comunicado ontem informando que concordou em pagar € 7,4 bilhões (R$ 23,7 bilhões) para comprar da Oi os ativos portuguesas da Portugal Telecom (PT). Para analistas, caso a venda seja concluída, marcará o fim da fusão entre a PT e a Oi, abalada depois que o lado português perdeu milhões de euros no escândalo do Banco Espírito Santo. A PT faz parte da Oi desde maio, quando ocorreu a capitalização da companhia carioca para permitir a fusão entre as duas operadoras.
No mercado brasileiro, o negócio é visto como condição necessária para que a Oi reduza seu endividamento e consiga fazer caixa para participar do fatiamento da TIM. Oi, Claro e Vivo planejam comprar a TIM, segundo maior operadora de celular no país, e desmembrar suas operações.
“A Altice anuncia que entrou em um acordo de exclusividade com a Oi para concordar na compra dos ativos portugueses da Portugal Telecom”, diz o comunicado.
Altice e Oi terão prazo de até 90 dias para concluir o processo de due diligence (uma espécie de auditoria nas contas da empresa por sua parceira) e finalizar a aquisição. A francesa venceu por pouco mais de € 300 milhões uma proposta do fundo de private equity Apax e Bain de € 7,075 bilhões, que também disputava os ativos da PT.
O valor de mercado da PT é hoje de € 1,3 bilhão (R$ 4,3 bilhões), já que as ações da empresa recuaram 53% este ano. A empresa portuguesa comprou dívidas da Rioforte, mas sofreu calote.
‘FIM DA SUPERTELE’
A compra da Portugal Telecom permitirá à Altice concorrer com a Vodafone e Optimus em Portugal, onde tem duas pequenas companhias de TV a cabo, Cabovisão e Oni. Além disso, será mais um passo em sua estratégia para se tornar um império de telecomunicações na Europa. O anúncio do acordo de exclusividade ocorre dias depois de a Altice ter finalizado sua maior aquisição até agora, de € 17 bilhões , da empresa de telecom francesa SFR da Vivendi.
A oferta de € 7,4 bilhões pela Portugal Telecom inclui € 500 milhões ligados à geração futura de receita pela PT. O negócio, no entanto, não inclui a dívida de € 897 milhões a curto prazo da Rioforte. A proposta exclui ainda os ativos portugueses na África, como a Unitel, em Angola, que tem como sócia Isabel dos Santos, filha do presidente do país.
Na avaliação de Juarez Quadros, sócio da consultoria Orion, a venda dos ativos em Portugal representará, na prática, o fim da fusão entre Oi e PT.
— Eu entendo que é o fim da fusão, sim, já que a Portugal Telecom não participará mais da nova companhia. A supertele, como foi imaginada, já não existe mais — afirmou o especialista, que foi ministro das Comunicações no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas Quadros acredita que o negócio será positivo para a Oi, uma vez que considera o valor proposto essencial para a redução do endividamento da companhia brasileira.
— Só equalizando suas dívidas a Oi poderá fazer frente à Telefônica e participar da consolidação que está prestes a acontecer no mercado de telecomunicações nacional. O valor (da venda) é interessante, representa praticamente metade da dívida da empresa. Será fundamental para ela se tornar mais competitiva — afirmou.
Procurada, a Oi não se manifestou.
Colaborou Clarice Spitz, com agências internacionais