Marcello Corrêa - O Globo
Afetado por inflação e juros, indicador teve avanço de 0,1% no terceiro trimestre, o que indica estagnação
Depois de 43 trimestres — quase 11 anos — crescendo a uma taxa média de 4,4%, o consumo das famílias parou de subir no Brasil. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, o indicador teve leve alta de 0,1%, o que o próprio instituto considera estabilidade. Na comparação com o segundo trimestre, houve queda de 0,3%, a pior desde o terceiro trimestre de 2008, quando foi registrada retração de 2%.
O consumo das famílias é um dos componentes mais importantes do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país). Responde por cerca de 63% dos indicadores da ótica da demanda, composto ainda por consumo do governo, investimentos e o setor externo. Na comparação interanual, vem desacelerando desde o último trimestre do ano passado, quando crescera 2,5%.
Segundo o IBGE, o avanço tímido do índice foi afetado pela combinação de fatores como inflação, juros mais altos e desaceleração no crescimento da renda.
— A gente continuou tendo crescimento da massa salarial real nesse trimestre, que cresceu 2,9%. Só que essa taxa é bem menor que a registrada no trimestre anterior, que tinha sido de 4,1%. Além disso, o crédito com recursos libres para pessoas físicas parou de crescer em termos reais. Teve um crescimento nominal de 5%, que se for deflacionar por algum índice de preço deve dar negativo — explicou Rebeca Palis, gerente da coordenação de contas nacionais do instituto.
A especialista destacou ainda que a média da taxa Selic no terceiro trimestre deste ano foi de 10,9%, contra 8,5% no mesmo período do ano passado. De acordo com o IBGE, esses fatores também afetam a formação bruta de capital fixo, indicador de investimento, que recuou 8,5% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2013.
Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o dado também tem influência sobre o crescimento dos setores de comércio e serviços, que vêm desacelerando nos últimos meses. Na divulgação desta sexta-feira, o IBGE mostrou que o setor de serviços — que, nas contas nacionais, engloba também o desempenho do comércio — cresceu 0,5% frente ao terceiro trimestre do ano passado. Bem menor que a média de 3,1% dos últimos anos.
— Do lado da oferta, a gente vê que o serviço estacionou na esteira no consumo das famílias. Está no patamar elevado, mas estacionou forte — afirmou o economista, destacando que a alta de 0,1%, apesar de ser considerada por analistas como uma saída da recessão técnica, não é necessariamente uma boa notícia: — Não veio bom, estava esperando um PIB bem mais forte. Ele interrompe de forma muito tímida a recessão técnica.