terça-feira, 26 de agosto de 2014

Roleta-russa, mesmo com cinco balas, ainda é melhor do que tiro certo na nuca

Blog Rodrigo Constantino - Veja

O que vai ser desse tiro no escuro?
Deu na coluna Radar de Lauro Jardim:
O  aguardadíssimo resultado da pesquisa Ibope que o Jornal Nacional divulgará hoje vai mostrar um novo avanço de Marina Silva. Pela pesquisa, Marina está empatada tecnicamente com Dilma Rousseff no primeiro turno, considerando a margem de erro de 2%.
A pesquisa mostrará Dilma Rousseff entre 31% e 32%, Marina entre 27% e 28% e Aécio Neves entre 18% e 20%.
No segundo turno, Marina aparecerá com dois dígitos à frente de Dilma.
A pesquisa foi feita pelo Ibope entre 23 e hoje. Foram entrevistados 2506 eleitores.
Aécio Neves, mais por torcida do que convicção, tem dito que isso tudo é apenas uma “onda”, e que daqui a algumas semanas ficará mais claro o quadro eleitoral verdadeiro. Não sei se será o caso, ou se a “onda” verde virará um tsunami.
Só sei que é cada vez mais factível a “imagem do inferno”: Dilma e Marina no segundo turno, uma bizarra escolha do eleitor brasileiro quando se tem Aécio Neves e uma equipe de primeira como alternativa razoável, mesmo para um liberal crítico dos tucanos como eu.
Reinaldo Azevedo escreveu um texto indicando que pretende anular seu voto caso essa tragédia ocorra, pois se nega a votar em quem paira “acima” da política com ar messiânico, proferindo sentenças incompreensíveis. Peço vênia para discordar de meu vizinho virtual, quem muito respeito e cujos argumentos compreendo. Mas creio que sua conclusão é equivocada nesse caso.
Minha linha de raciocínio é bem simples, e foi bem resumida por um banqueiro de investimentos que comparou Marina a uma roleta-russa, e Dilma a um tiro certo no alvo. Um amigo meu acrescentou: roleta-russa com cinco balas no tambor (de seis). Que seja! Ainda há a chance de não sair bala fatal alguma, ao contrário de mais quatro anos de Dilma.
Para Reinaldo, o inimigo de nosso inimigo não é necessariamente nosso amigo, o que concordo totalmente, lembrando, como ele fez, que não temos inimigos, e sim adversários (talvez muitos petistas configurem, sim, um quadro de inimigos, pois assim nos enxergam). Marina é uma incógnita, um tiro no escuro, um risco grande. Mas Dilma é a certeza do fracasso e de mais passos rumo ao bolivarianismo.
E aqui chego no cerne da questão: o aparelhamento da máquina estatal pelo PT nesses 12 anos de poder. Esse é o grande inimigo a ser derrotado! Não podemos permitir mais quatro anos de aparelhamento, de novos ministros do STF apontados por critérios partidários e ideológicos, de mais apaniguados mamando nas tetas estatais, ocupando todos os milhares de cargos disponíveis, tomando conta das agências, fundos de pensão, estatais etc. O Brasil precisa de uma desintoxicação do PT!
Mesmo com todos os riscos que Marina representa, ainda é melhor tal mergulho no escuro do que permitir o avanço do aparelhamento petista. Depois pode ser tarde demais. Só a “troca de guarda” já faria bem ao país, à democracia, pois o poder de estrago causado pelos golpistas pendurados em tudo que é órgão público tende a ser fatal com mais quatro anos. Vide Argentina. Vide Venezuela.
Dito isso, o que em minha opinião já configura razão suficiente para não anular o voto e demonstrar indiferença entre Dilma e Marina, há alguma chance de mudança para melhor, se Marina tomar juízo e acatar os conselhos de pessoas com algum bom senso ao seu redor (e estas existem). As sinalizações nesta direção já começaram, como reforçar a importância do tripé macroeconômico, falar até em independência do Banco Central e indicar uma aproximação com o agronegócio, tão demonizado pelos “marineiros”.
Sabemos que Marina é imprevisível, e que seus assessores do PSB não falam necessariamente em seu nome. Sabemos, ainda, que o PSB vem tentando, com a própria Marina, mitigar o medo que os investidores e empresários têm dela. Por fim, sabemos que o discurso político pode mudar de acordo com o público. Dito tudo isso, Walter Feldman palestrou para investidores hoje cedo em evento do Itaú, e um amigo que estava lá me mandou o seguinte resumo:
- Volta do tripe macroeconômico.  Não faltam nomes e alguns anúncios serão feitos em breve, uma boa escolha de equipe faz toda diferença nesse momento, pois querem credibilidade.
- Falou que vê a democracia em risco com tudo que foi feito por esse governo.
- Usou o termo “cupinização”, disse que o governo é corrupto e atua em todas as áreas e que a Petrobras é um excelente exemplo disso.
- Acreditam na capacidade de governar porque o projeto é de um Brasil melhor, com diálogo permanente e são essas as mudanças que a população quer.
- Reforma política (essencial, pois mudanças estruturais com o atual modelo são pouco factíveis), tributária e fiscal são importantes e deve haver empenho para que ocorram.
- Acreditam na meritocracia, veem pessoas competentes em todos os partidos, mas para integrar o novo governo não basta ser competente, tem que ser ético e ter o mesmo pensamento de governar para os interesses do povo e não interesses partidários ou individuais. 
- Dia 29 serão apresentadas as linhas gerais dos  programas, pediram um pouco de paciência pois Marina como cabeça de chapa tem duas semanas.
- Em caso de vitória, acreditam que transição não será fácil porque a fotografia de irregularidades e maquiagens hoje é muito feia. Logo, demoraria 3 meses para fazer avaliação, em 6 meses começam a tomar as rédeas com base nas avaliações e em 12 meses tem total domínio do governo.
- Falaram não só em independência do BC, mas também de um BC de primeira linha, e não um BC de segunda linha, que sanciona as vontades da presidente e não faz o que tem que ser feito.  Questionaram também o papel do Tesouro Nacional em relação ao financiamento do BNDES.
- Acúmulo de medidas pontuais e especificas geraram um alto desalinhamento no atual governo. Tem que ter choque de credibilidade na política econômica. Credibilidade leva a ganho de tempo. Situação não vai se resolver numa única tacada dado o tamanho dos desajustes.
Em linhas gerais foi isso.  Muitos participantes animados com a queda da Dilma.  A maior parte ainda vê Marina como a única com chances de derrotá-la num eventual segundo turno.
A própria reação do mercado em geral corrobora com essa visão mais otimista, como podemos ver pelo desempenho recente do Ibovespa:
Ibovespa. Fonte: Bloomberg
Ibovespa. Fonte: Bloomberg
Claro que o “mercado” pode errar, não é infalível. Aconteceu antes, com o próprio Lula e também com Dilma. A turma demorou muito para acordar. Mas não deixa de ser um conforto saber que milhões de investidores do Brasil e do mundo interagindo livremente têm expressado uma visão de esperança com a crescente possibilidade de derrota de Dilma. Estou com eles nesse aspecto: nada pode ser pior do que mais quatro anos de Dilma! E não custa mencionar, a favor de Marina, que um tipo caricato como Emir Sader já a “acusa” de ser a “nova direita” (risos).
Cheguei a brincar, parafraseando Churchill em relação a Hitler, que se fosse para derrotar o PT eu falaria até uma coisa ou outra positiva sobre o próprio Diabo. A prioridade é retirar a corja atual do poder e trocar a “gerentona” que, com sua arrogância e viés ideológico nacional-desenvolvimentista, com certeza irá afundar o Brasil de vez se for reeleita. Que coloquem as cinco balas no tambor e apertem o gatilho logo de uma vez!
PS: Vale lembrar que ainda é cedo para cantar a vitória de Marina, e que o fenômeno pode, sim, ser uma onda passageira. Ainda fecho com uma digressão otimista de mais longo prazo. O Brasil precisou suportar 12 anos de PT para cair o mito do ex-operário salvador da Pátria, e hoje o PT é visto como o partido mais corrupto de todos, como de fato é. Talvez precise enfrentar agora quatro anos da seringueira pobre que quer salvar o planeta para cair a ficha de mais um mito boboca. Como o pepino econômico é grande e o abacaxi terá de ser digerido nos próximos anos, em 2018 o caminho ficará mais fácil para Aécio Neves, ou mesmo um candidato mais liberal de algum partido NOVO!