Cleide Carvalho - O Globo
Em apuração interna, ex-diretor da Petrobras culpou área internacional da estatal pela refinaria
O possível acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa com o Ministério Público Federal poderá complicar a situação de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal. Costa tem demonstrado intenção de falar o que sabe sobre a atuação de Cerveró na época da compra da refinaria de Pasadena, no Texas.
Em documento encaminhado ao juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba para responder a questionamentos da Comissão Interna de Apuração da Petrobras, Costa afirmou que decisões econômicas em relação ao negócio foram tomadas pela área internacional e que as avaliações mercadológicas foram feitas por técnicos da Petrobras America, que era ligada à diretoria de Cerveró.
No documento entregue à Justiça Federal, Costa afirmou ainda que os técnicos indicados por sua área responderam apenas por avaliações da refinaria na ocasião da compra e que sua participação no Comitê de Proprietários de Pasadena era amparada por avaliações e textos produzidos unicamente pela diretoria internacional, com a ajuda de escritórios de advocacia contratados pela Petrobras America.
“Estas reuniões eram totalmente acompanhadas e direcionadas pela referida área jurídica da área internacional, notadamente pelo advogado Dr. Barromeu”, afirmou Costa, referindo-se ao advogado Carlos Barromeu, chefe jurídico da área internacional.
Não é a primeira vez que o advogado é citado como responsável pelas más decisões tomadas em relação à refinaria americana. Reportagem publicada pela revista “Época”, em abril passado, mostrou que Barromeu defendeu que a Petrobras mantivesse uma disputa judicial com a Astra, sua sócia na refinaria de Pasadena, o que elevou ainda mais o prejuízo da estatal com o negócio.
PREJUÍZO DOBRADO
No contrato com a Astra, havia uma cláusula que previa que, caso houvesse divergência entre os sócios, a empresa divergente deveria comprar a parte do outro. Em 2008, a divergência ocorreu, e a Astra propôs que a Petrobras comprasse a totalidade da refinaria.
A Petrobras foi à Justiça e acabou condenada a pagar indenização de US$ 639 milhões.
Barromeu defendeu que a estatal mantivesse o litígio, e o prejuízo dobrou.
A disposição de Costa de firmar um acordo de delação premiada não foi bem recebida por outros investigados. O advogado de Alberto Youssef, Antonio Bastos, disse que seu cliente decidiu não aderir e afirmou que a estratégia continua sendo retirar o processo da Justiça Federal de Curitiba e defender a tese de que as escutas feitas pela Polícia Federal foram ilegais. A estratégia é a mesma que vinha sendo defendida pelo advogado Nélio Machado, que defende Costa.