Roberta Scrivano - O Globo
Mauro Borges afirmou que questões afetam diretamente os setores produtivos
Com discurso antagônico ao já conhecido otimismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Mauro Borges, afirmou nesta segunda-feira que a economia brasileira só voltará a crescer depois de superar suas fragilidades.
Segundo ele, o País sofre com “a fragilidade conjuntural e a fragilidade estrutural” que “afetam diretamente os setores produtivos”.
— Não daremos conta de crescer na próxima década se não enfrentarmos esses problemas, declarou, durante almoço com empresários, em São Paulo.
Embora reconheça que, “o fundo do poço da desaceleração já ocorreu” e que´há “vários sinais de melhora”, ele disse não ver possibilidade de a indústria fechar esse ano com sinais de retomada firme da atividade.
— Estamos em um processo de recuperação bem lento. Acredito em recuperação apenas em 2015 — afirmou.
Borges detalhou que o principal desafio conjuntural a ser enfrentado é a apreciação do câmbio, que, em suas palavras, foi “exagerada” e ocorreu como “efeito colateral” das políticas anticíclicas adotadas pelo governo federal após a crise de 2008. Já em relação à questão estrutural, ele disse que o problema é a baixa produtividade brasileira.
O ministro afirmou ainda que o Brasil deve enfrentar “dois profundos déficits”: o da infraestrutura e o do capital humano. De acordo com ele, nenhum governo é capaz de corrigir sozinho esses gargalos.
— A questão da produtividade é uma doença que perdura há 30 anos no Brasil e que emperra o crescimento — afirmou, para completar: — Então, se equacionarmos esses dois problemas (conjunturais e estruturais) conseguiremos acompanhar o novo ciclo de crescimento mundial.
Para ele, a superação destas questões, que ele disse que serão os “vetores do crescimento”, induzirá naturalmente a retomada do consumo.
Diante do cenário mais pessimista pintado pelo ministro e perguntado sobre se vê o país em crise, porém, o ministro descartou veementemente a possibilidade.
ABERTURA DE MERCADO
A necessidade de abrir mais o mercado nacional, bem como fazer acordos multilaterais, também foi defendida por Borges. Ele aproveitou para reforçar que a proposta brasileira de um acordo comercial com a União Europeia já está pronto. Segundo ele, a partir de novembro, novidades a respeito desse tema devem surgir.
— Nós temos um momento de transição na Comissão Econômica da Europa. Então, evidentemente, que quem vai liderar esse processo de consulta, que já está em transição, é essa nova Comissão. Vamos ter isso definido até novembro, aí, a partir de novembro temos condições de equacionar essa consulta com os estados europeus.