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Diante da constatação técnica de duas quedas trimestrais seguidas do PIB, ministro da Fazenda culpa Copa e crise externa por redução, em postura que prejudica ainda mais a confiança dos analistas na economia

"É meramente efeito estatístico pelo resultado negativo do segundo trimestre", diz Mantega (Ueslei Marcelino/Reuters/VEJA)
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira que, em sua opinião, o Brasil não está em recessão. "É meramente efeito estatístico pelo resultado negativo do segundo trimestre", disse horas depois do anúncio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que o PIB do país caiu pelo segundo trimestre consecutivo, o que configura, sim, recessão técnica.
Mantega, de qualquer forma, parece não concordar com os economistas e dá opinião que não se sustenta diante dos dados técnicos: "Recessão é quando você tem desemprego aumentando e renda caindo. Aqui temos o contrário", complementou. Os números oficiais apontam que a economia brasileira registrou contração de 0,6% no segundo trimestre de 2014 na comparação com os três meses anteriores. O resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2%.
O ministro abusou das desculpas para minimizar o anúncio de recessão, em um procedimento que costuma utilizar todas as vezes que surgem análises ou notícias ruins sobre a economia nacional, reforçando assim a desconfiança de investidores e analistas com os rumos do país.
Mantega declarou que a economia nacional foi afetada pela menor quantidade de dias úteis na primeira metade do ano e que vê uma recuperação moderada nos próximos meses. "No terceiro trimestre vamos ter 10% a mais de dias úteis. É como termos 10% a mais de produção e comércio", afirmou.
Além disso, diz ele, também pesou na economia do país a política monetária do Banco Central (BC), que elevou a Selic a 11% para tentar segurar a inflação ainda alta, rondando o teto da meta do governo, que é de 6,5%. Nas contas de Mantega, esse movimento causou restrição de consumo e demanda.
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Segundo Mantega, o resultado do PIB no segundo trimestre ficou aquém das expectativas do governo, e voltou a culpar o cenário internacional também pelos resultados. Ele acrescentou, por outro lado, que haverá melhora na economia internacional, sobretudo puxada por Estados Unidos e Reino Unido.
Também citou "problemas localizados" no Brasil, como a seca, que acabou aumentando os custos no setor energético, mas esse fator já ficou para trás. Neste contexto, o ministro disse que a inflação no Brasil está "num patamar razoável".
(Com Reuters)