João Sorima Neto - O Globo
Para analistas, contratos de ‘swap’ perderão eficácia nos próximos meses
A estratégia do Banco Central (BC) de evitar uma valorização mais forte do dólar oferecendo a moeda americana através de leilões diários de contratos de swap cambial, operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro, deve perder eficácia daqui para frente. Segundo analistas, a moeda americana seguirá ganhando força nos próximos meses, seja por influências domésticas ou externas.
Um ano depois de anunciar a medida, o BC já ofertou ao mercado cerca de US$ 92 bilhões através destes papéis, na maior intervenção no câmbio dos últimos 12 anos. Em 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, o dólar chegou perto de R$ 4, e o BC despejou US$ 40 bilhões para segurar a cotação. Ao manter o dólar artificialmente entre R$ 2,20 e R$ 2,30, o BC quer evitar mais pressão sobre a inflação.
— A questão aqui é a diferença entre o remédio e o veneno. Se exagerar na dose, o BC acaba deixando transparecer que o real está fraco e atrai especuladores. Mas se não intervir no câmbio, o dólar sobe e a inflação vai junto — avalia Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO.
Mas a expectativa dos investidores é que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) eleve os juros nos EUA já em 2015. Isso atrairia parte dos recursos que migram para países emergentes, como o Brasil. Essa saída de capitais vai pressionar a moeda americana.
O dólar também pode subir mais dependendo de quem vencer a eleição presidencial no Brasil este ano. No caso de reeleição da presidente Dilma Roussef, alguns especialistas estimam que a moeda americana pode chegar a dezembro de 2015 mais próxima de R$ 2,60. No caso de um candidato da oposição sair vencedor, a aposta é de um dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30 ao fim de 2015.
Diante deste cenário de incertezas, por enquanto, o BC não poderá abrir mão das intervenções no câmbio, avaliam especialistas. Mas, ao mesmo tempo, a estratégia poderá não ser tão eficiente para segurar o dólar como vinha se mostrando até agora.
— O BC pode até aumentar sua intervenção, mas a tendência da moeda americana é de alta — diz Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos, uma empresa do Grupo Vinci Partners.
Até agora, BC lucrou R$ 21 bi
A vantagem dos swaps é que eles não drenam as reservas internacionais do país. Na prática, as operações de swap são uma troca entre o BC e os investidores interessados em se proteger da variação do dólar. Ao oferecer estes papéis, o Banco Central toma o risco cambial e perde quando a moeda americana se valoriza. Se o dólar recua, o BC tem lucro. Em troca, o comprador do papel paga a taxa de juros do período ao governo. É como se o Banco Central vendesse dólares, aplicasse os reais recebidos em juros e recomprasse a moeda estrangeira no vencimento do contrato. Até junho, com o recuo do dólar, o BC lucrou mais de R$ 21 bilhões nessas operações.
Para Sidnei Nehme, se em lugar dos swaps o BC tivesse vendido R$ 92 bilhões de suas reservas, provavelmente o mercado teria uma avaliação mais negativa da posição externa do país, e o dólar estaria mais forte.
— Mas em algum momento o BC terá que desmontar essas posições. Os leilões não podem substituir uma política fiscal austera e uma política monetária que vise cumprir a meta de inflação estabelecida.
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Na avaliação de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, as intervenções no mercado de câmbio deverão continuar ao menos até o final do primeiro semestre do ano que vem. No entanto, isso não impedirá a alta da cotação do dólar.
— O programa de swap vai continuar, mas apenas para suavizar o processo de apreciação do dólar. Acho isso correto. Evita um comportamento de pânico dos investidores — afirmou Goldfajn.