OBRA-PRIMA DO DIA (ARQUITETURA)
O lago Leman, também chamado de lago Genebra, é o maior lago alpino, o maior lago natural da Europa ocidental. Sua forma é a de um croissant: a margem norte e as duas extremidades são suíças, a margem sul é francesa e a fronteira passa pelo meio do lago.
Além das cidades que banha, como Genebra, Lausanne, Montreux, Yvoire, Évian, Vevey, e outras tão lindas quanto, no Leman fica o Castelo de Chillon, castelo que está entre os mais visitados da Europa.
As origens de Chillon só começaram a ser desvendadas no século XIX e falam de uma ocupação destinada à defesa desde a Idade do Bronze, provavelmente cerca de 1800 a.C. A paliçada dupla foi transformada pelos Romanos em fortaleza, e recebeu uma torre quadrada em fins do século IX.
As partes mais antigas do castelo ainda não foram definitivamente datadas; a primeira menção escrita sobre Chillon é de 1160. Em meados do século XII passou a ser a residência dos Condes de Sabóia. O castelo nunca foi tomado, mas mudou de mãos ao longo dos anos através de tratados.
A torre mais antiga
Chillon, por sua posição, era cobiçado por muitas famílias provavelmente para fiscalizar e cobrar um pedágio pelo trânsito de mercadorias que vinham da Itália após atravessar o Passo de São Bernardo.
Para se defender dos condes de Genebra, os senhores de Sabóia criaram uma frota de galeras que atracavam em Villeneuve. Nessa época o castelo servia como arsenal, prisão, caserna, corte de Justiça, centro do poder, local de recepção de embaixadas, proteção portuária e residência.
Foto tirada do alto de uma de suas torres
Mas os condes de Sabóia cansaram de ali viver e o abandonaram nas mãos de alguns empregados. Largado, servindo apenas como prisão para feiticeiras, heréticos, ladrões, e judeus que os senhores tinham por hábito trocar por resgate, ao alegar que eram eles os responsáveis pelas epidemias da peste, assim seguiu Chillon por muito tempo.
Curiosamente, quando passa para o domínio dos senhores do cantão onde está, Vaud, é que Chillon se torna mais misterioso. Sabe-se quem lá vai, mas não se sabe precisamente o que lá foram fazer, sabe-se apenas que o castelo aumenta de tamanho. São 25 prédios unidos por corredores e passarelas.
Escritores como Dickens, Goethe, Andersen ou Hemingway param ali para refazer suas forças, outros como Hugo, Rousseau, Flaubert, o mencionam em suas obras: esse ímpeto romântico serviu magnificamente bem para a exploração turística do local, mas prejudicou bastante o conhecimento real de sua história.
Chillon é tão bonito, tão encantador, que inspirou também grandes pintores. Há obras de Courbet, Delacroix, Turner, retratando o castelo.
Óleo de Gustave Courbet, 1874
Em 1762, Jean-Jacques Rousseau chama a atenção para Chillon ao situar no castelo um dos episódios de seu A Nova Heloisa.
Mas foi Byron que fez Chillon popular com seu poema O Prisioneiro de Chillon (1816), onde fala dos sofrimentos de François Bonivard, um monge e político genebrino que ficou preso no castelo de 1530 a 1536. Lord Byron, impressionado com Chillon e suas masmorras, gravou seu nome num dos pilares do calabouço.
Em sua novela Daisy Miller (1878), Henry James faz de Chillon um dos cenários de seu enredo.
Uma das masmorras de Chillon
O castelo fortaleza domina orgulhosamente as águas do Leman. Belíssimo, imperturbável, tranquilo por ter servido mais à paz que à guerra, Chillon é profundamente suíço: fica no coração do cantão de Vaud.
Joia arquitetônica, com um perfil encantador apesar das velhas paredes testemunharem um passado muitas vezes tenebroso, a paisagem que lhe serve de estojo tem os elementos imprescindíveis à estética romântica: um quadro sublime que esconde o mal que ali se fez presente – o lago Leman e os Alpes.
Foto: Dominique Schrekling