domingo, 24 de agosto de 2014

Bancos privados de Genebra quebram 200 anos de silêncio para divulgar lucros

Medida é uma forma de adaptar seus negócios a uma nova era de cumprimento fiscal

 
GENEBRA - Os dois maiores bancos de capital fechado da Suíça estão prontos para publicar seus lucros após dois séculos de sigilo. O Lombard Odier, banco com sede em Genebra fundado em 1796, publicará sua declaração financeira em 28 de agosto, segundo uma fonte do setor que pediu para não ser citada conforme a política do banco. O Pictet Group, terceiro maior gestor de riqueza e ativos da Suíça depois do UBS e do Credit Suisse Group, também irá divulgar a informação neste mês.

Em janeiro, sob pressão de reguladores no exterior, as duas empresas eliminaram suas seculares estruturas de parceria, criando com isso a exigência de informarem seus lucros publicamente. Tal medida foi tomada porque a indústria de banco privado da Suíça e seu tradicional sigilo estão sob um escrutínio sem precedentes de autoridades fiscais nos EUA e na Europa.

— Será fascinante ver os resultados do Pictet e do Lombard Odier após eles terem mantido as cifras em particular durante tanto tempo — disse Tim Dawson, analista da Helvea em Genebra, que cobre empresas financeiras de capital aberto na Suíça. — Esses caras estão na vanguarda da adaptação às mudanças no ambiente da indústria suíça.


FAMÍLIAS MAIS RICAS

Embora o Pictet e o Lombard Odier não tenham revelado quais números eles irão publicar nos lucros, ambos se encaminham para produzir um valioso conjunto de informações para analistas do setor, investidores em gerentes de ativos de capital aberto e os próprios clientes dos bancos em relação ao seu desempenho.

Os bancos, tradicionalmente utilizados pelas famílias mais ricas do mundo para protegerem suas fortunas, supervisionam cerca de US$ 630 bilhões para clientes privados e institucionais, segundo as empresas.

Bancos em toda a Suíça estão procurando adaptarem seus modelos de negócios a uma nova era de cumprimento fiscal na qual as autoridades fiscais dos governos irão exigir que divulguem detalhes sobre seus clientes privados e troquem informações com outros países.

Essas exigências requeriram investimentos em infraestrutura de tecnologia e afetaram as margens quando a receita de serviços como a execução de operações, transações e empréstimos vem murchando desde a crise financeira em meio a uma demanda comedida por investimentos arriscados e taxas de juros baixas.


CLIENTES INSTITUCIONAIS

O Pictet está entre uma dúzia de bancos suíços que estão sob investigação pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos por supostamente terem ajudado americanos a sonegarem impostos enquanto o Lombard Odier entrou em um programa de informações voluntárias dos EUA junto com mais de cem outros bancos no país.

Mais de metade dos negócios do Pictet agora se originam de clientes institucionais, frente aos ativos de indivíduos ricos que originalmente ajudaram a empresa familiar, fundada em 1805, a se converter no maior banco privado da Genebra. O banco ganhou sua primeira conta de um fundo de pensões em 1967.

O Lombard Odier aumentou os ativos administrados para clientes institucionais para US$ 47,7 bilhões no final de 2013, contra US$ 25,2 bilhões há cinco anos, enquanto os mercados globais se recuperavam da crise financeira, de acordo com a empresa. O banco cuida de cerca de US$ 200 milhões para clientes privados e institucionais do mundo inteiro, incluindo ativos retidos em custódia. Neste mês, contratou Nancy Everett, diretora da unidade de gestão fiduciária da BlackRock entre 2011 e 2013, para ajudar a aumentar os negócios com gestores de recursos dos EUA.
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No ano passado, os dois bancos anunciaram que eliminariam as estruturas que fazem com que os sócios das companhias assumam responsabilidade ilimitada pelas perdas. A lei suíça agora lhes exige que publiquem declarações financeiras com informações sobre balanços e lucros. Os relatórios semestrais devem ser publicados até dois meses depois do final do período de seis meses informado.

Os dois bancos nunca revelaram a lucratividade do seu negócio com clientes privados frente aos mandatos de investimento que eles estão procurando cada vez mais de clientes institucionais, como fundos de pensões ou serviços de custódia que fornecem a outros bancos e gerentes de ativos.

O Moody’s Investors Service reduziu sua previsão para o setor bancário da Suíça de estável para negativa em um relatório de 31 de julho que descrevia a lucratividade e a eficiência como “em deterioramento”. O Moody’s produz notas para 17 bancos suíços incluindo o Pictet.