As ideias do economista anunciado por Aécio Neves como seu escolhido para o ministério da Fazenda, caso eleito
Quando Aécio Neves anunciou, no primeiro debate entre os presidenciáveis, que se eleito o seu ministro da Fazenda seria Armínio Fraga, o presidente do Banco Central de FHC dava os derradeiros retoques na seguinte entrevista.
Quem são os inimigos do povo?
Os populistas, os falsos democratas, os que acham que o Estado pode tudo, especialmente para eles mesmos.
Voltaram a falar em reforma política, inclusive Aécio. É para valer ou a engabelação de sempre?
Com Aécio é para valer. A reforma política é premente para melhorar a governabilidade. E também para evitar a convocação de uma Constituinte às pressas num momento de tensão, como o de junho do ano passado.
É possível garantir o crescimento constante?
O progresso continuado depende principalmente de investimento em capital e educação, além de situações intangíveis, como a qualidade e perenidade das instituições e a possibilidade de ascensão das pessoas, especialmente das mais pobres.
E quando há crises internacionais?
Os altos e baixos da economia global devem ser administrados com disciplina permanente no lado fiscal, monetário e bancário. E com flexibilidade do câmbio, que não deve ser manipulado, como hoje.
Alguns economistas falam em armadilha da renda média, na qual se acelera o consumo em detrimento do investimento. Isso existe?
Existe, sim senhor. Seria algo como comer as sementes. O populismo é uma praga dessa família.
Como combater a praga?
Tendo um Estado decente, ou seja, que ofereça igualdade perante a lei e as mesmas oportunidades na educação, na saúde, no transporte etc. São atributos comuns a todas as nações desenvolvidas. Um Estado capturado por interesses partidários ou particulares inibe o desenvolvimento e solapa a democracia.
O que é mais urgente: crescer ou redistribuir os ganhos do capital?
É vital que as duas coisas andem em paralelo, por razões de justiça, mas também de estabilidade social e, portanto, econômica. Numa sociedade onde a informação circula, as tensões geradas por desigualdades estapafúrdias são insuportáveis. Sobretudo se a percepção é que alguns enriquecem porque têm privilégios, ou roubam, ou corrompem.
Entre FHC, Lula e Dilma, quais foram as continuidades e rupturas?
O governo Lula.1 deu continuidade à estabilidade de FHC, manteve o tripé macro e turbinou o Bolsa Família. O Lula.2 e Dilma romperam com o molde social-democrata, razoavelmente liberal, e voltaram ao nacional-desenvolvimentismo que nos quebrou no início dos anos 80. E nos quebrará de novo se não houver correção de rumo. Além disso, como reconheceu a presidenta, faltam educação e saúde de qualidade para o povo.
Mas o nacional-desenvolvimentismo, o velho ND, não melhorou a vida de milhões de pessoas?
Não o suficiente: a renda per capita do Brasil é cerca de 20% da americana, e mal distribuída. O ND não gera aumento sustentável do emprego, da produção e do consumo. O ND não entrega nem investimento nem produtividade, e tem características regressivas, advindas de subsídios, desonerações, proteções e até relações de compadrio. É privilégio duro e puro de setores cartoriais do empresariado.
“O capital no século XXI”, de Thomas Piketty, recolocou a questão da desigualdade social. Qual o mecanismo efetivo para diminuir concentração de renda aqui?
O assunto é crucial e bem conhecido no Brasil. Aqui é preciso construir um Estado que sirva aos interesses coletivos, proporcione uma rede de proteção social razoável e zele pela criação de riqueza social.
A prioridade é combater a corrupção ou desconcentrar a renda?
Com o risco de repetir o meu samba de uma nota só, digo que é preciso fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Seja quem for o presidente, o que está na cara que se deve fazer a partir da eleição?
O Brasil vive uma inversão sinistra. Do lado macro há descontrole: a inflação anda alta faz tempo, as contas públicas são opacas, o câmbio é manipulado, o governo abusa dos bancos públicos. Do lado micro há excesso de controle: a economia está desconectada das boas práticas globais, o sistema tributário é um pesadelo, há pouco investimento porque as regras do jogo não são confiáveis. É preciso controlar o macro, para reduzir a incerteza e os juros, e melhorar o micro, de modo a estimular o investimento e a produtividade.
Você é um economista prestigiado e rico. Por que se meter de novo em política?
Porque é bom contribuir para melhorar a vida das pessoas. O Brasil tem jeito!