Blog Ricardo Setti - Veja
O BONDE DO PLANALTO
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
Pouco a pouco, os brasileiros começam a se perguntar o que valeria mais a pena para o país, e sobretudo para eles próprios, nas eleições de outubro próximo: manter Dilma Rousseff na Presidência da República, em sociedade com o ex-presidente Lula e o PT, ou enviar para lá um candidato contrário às figuras que mandam no Brasil há doze anos, e querem continuar mandando?
Cada um chegará às suas conclusões até a hora de votar, e aí seja o que Deus quiser.
Mas, além das questões sobre crescimento da economia, atendimento nos hospitais públicos, Bolsa Família e mais um mundo de temas que vão da construção de aeroportos no interior de Minas Gerais à compra de refinarias de petróleo no Texas, seria muito saudável que a campanha eleitoral colocasse em cima da mesa de discussões, sem medo, a seguinte pergunta: o que vai acontecer com as liberdades públicas e individuais depois de anunciado oficialmente o lado que ganhou?
Num país onde os adversários políticos estão de acordo sobre o que é democracia e o que é tirania, não é preciso fazer indagações desse tipo – ganhe quem ganhar, está combinado que ninguém mexe nos direitos e deveres de ninguém. O problema, em nossa vida real, é que o Brasil não é um país assim.
Como vai ficando cada vez mais claro na atual disputa pela Presidência, um dos lados não quer jogar segundo o que está escrito no regulamento democrático.
Mais ainda, anuncia publicamente que quer para o Brasil um futuro em que as garantias de liberdade em vigor no presente não estarão valendo mais; pelo que o governo propõe, seriam substituídas por um angu de normas que ele próprio pretende ir tirando da gaveta à medida que achar necessário.
Esse lado, para não ficar perdendo tempo com conversa fiada, velhaca e hipócrita, é o lado de Lula, de Dilma e do PT.
O que adianta esconder-se por trás de uma imparcialidade meia-boca, fingindo que estamos diante de uma disputa leal entre duas partes?
Não adianta nada, quando a cada dia fica demonstrado que o governo não respeita as ideias do adversário, propõe um regime que não combina com a Constituição vigente e, em vez de responder às críticas com argumentos lógicos, prefere ameaçar, insultar e agredir quem critica.
Nenhuma dessas observações vem da imaginação, ou da vontade de falar mal do governo. Vem diretamente do que estão fazendo, dia após dia, a própria candidata oficial e o seu padroeiro número 1.