TORONTO — Os aspirantes a prêmios da temporada de 2018 incluirão super-heróis, viajantes do espaço e Lady Gaga, mas seus filmes serão populares o suficiente para amenizar os temores de uma academia que quase apresentou um último Oscar apenas para blockbusters? Com três importantes festivais de outono agendados, incluindo o Festival Internacional de Cinema de Toronto, que terminou domingo, e com alguns remanescentes do início do ano ainda fazendo ondas, é hora de dar uma olhada na paisagem que reúne alguns concorrentes ao próximo Oscar. Aqui estão alguns dos filmes e performances que se espera que estejam concorrendo às seis principais categorias do Oscar.
Melhor filme e melhor diretor
Respire com calma, executivos da ABC. A lista de melhores filmes deste ano pode ser a categoria mais atingida em muitos anos, e provavelmente incluirá um dos maiores filmes de todos os tempos: “Pantera Negra”, o filme de super-heróis de Ryan Coogler que quebrou recordes de bilheteria quando foi lançado em fevereiro. Espera-se que a Disney monte uma grande campanha de premiações para o filme, o que poderá levar o Marvel Studios a conquistar o seu primeiro Oscar, e incluirá várias categorias de artesania, como figurino e música original. Mas o blockbuster com elenco majoritariamente negro tem bastante ressonância no mundo real para entrar nas corridas de melhor filme e de melhor diretor. Os publicitários de “Pantera Negra” deram um suspiro de alívio quando o Oscar de filme popular foi abandonado na semana passada: agora, este filme pode fazer uma jogada para o negócio real.
Uma série de novos filmes que estrearam nas últimas semanas nos festivais de Veneza, Telluride e em Toronto também podem se tornar grandes sucessos e com boas chances de ganhar uma indicação de melhor filme. O céu é o limite para o romance musical “A star is born”, que Bradley Cooper dirigiu e contracenou com Lady Gaga. “Green book” entrou em Toronto em meio a baixas expectativas e saiu de lá com tudo para cair nas graças da multidão: trata-se de uma dramédia com questões raciais ao estilo de “Um sonho possível” (2009) e “Estrelas além do tempo” (2016), e é protagonizado por Viggo Mortensen e por Mahershala Ali, que interpretam personalidades desencontradas numa viagem pelo Sul profundo dos Estados Unidos. E embora o filme biográfico “First man” tenha sido atingido por uma inesperada controvérsia sobre se a bandeira dos EUA apareceu com destaque suficiente, os críticos e o público deverão se engajar na história do astronauta Neil Armstrong (interpretado por Ryan Gosling) quando o filme for lançado em outubro, e seu faturamento provavelmente será afetado por uma sequência em IMAX excepcional que acontece na superfície lunar.
Tanto Cooper quanto Damien Chazelle, o diretor de “First man”, têm uma forte chance de estar na lista de melhor diretor, mas eles serão desafiados por outro grupo de recentes vencedores do Oscar. Em 2017, o filme “Moonlight”, dirigido por Barry Jenkins, ganhou o Oscar de melhor filme em disputa com “La La Land”, de Chazelle, e agora Jenkins está de volta com “If Beale Street could talk”, uma história íntima de amor testada pela injustiça racial. Em 2014, “12 anos de escravidão”, de Steve McQueen, ganhou o Oscar de melhor filme, enquanto Alfonso Cuarón levou para casa o prêmio de melhor diretor por “Gravidade”, e esses dois estão novamente na corrida este ano: McQueen com “Widows”, um thriller policial feminino e eletrizante, e Cuarón com “Roma”, um drama em preto-e-branco da Netflix, inspirado na infância do diretor na Cidade do México.
Os novatos na categoria de diretor poderiam ser Spike Lee, cujo filme baseado em fatos, “BlacKkKlansman”, recebeu o prêmio máximo em Cannes e se saiu bem nas bilheterias de verão, e o diretor grego Yorgos Lanthimos, o autor de filmes como “The Lobster ”, que traz uma sensibilidade torta à corte real britânica com sua comédia “The favorite”. A história de roubo “Você pode me perdoar?”, de Marielle Heller, pode render indicações para as categorias de atuação para Melissa McCarthy e Richard E. Grant, o que pode aumentar as chances de Heller ser indicada também e quebrar uma categoria tradicionalmente masculina; outras mulheres que poderiam entrar no grupo incluem Mimi Leder (“Com base no sexo”) e Josie Rourke (“Mary Queen of Scots”), embora seus filmes tenham pulado o circuito de festivais de outono.E ainda há os candidatos a serem exibidos, incluindo uma comédia de Dick Cheney do diretor Adam McKay (de “The Big Short”), e possivelmente até “The mule”, um drama de Clint Eastwood, cujo filme “American Sniper” foi um sucesso de bilheteria e indicado em 2015.
Melhor ator e melhor atriz
Se “A star is born” for um sucesso de premiações, Cooper pode estabelecer um recorde de mais indicações ao Oscar que uma única pessoa já recebeu por um filme: além de dirigir e estrelar, ele também produziu, co-escreveu e teve uma mão nas canções. Dessas possíveis indicações, a mais provável vitória será na categoria de melhor ator. No filme ele interpreta um cantor veterano que vai tendo o seu melhor consumido pela bebida, e Cooper tem sido visto como o atual favorito em uma categoria que ainda não está preenchida com nomes certos.
Ainda assim, a partir dos filmes já exibidos, espere que Gosling apareça como indicado por “First man”, a mais recente indicação da série de protagonistas estóicos interpretados pela estrela de 37 anos. Também correm por fora Robert Redford em “The old man & the gun” e a aclamada atuação de Ethan Hawke no indie “First reformed”. Performances mais suaves de Hugh Jackman no drama político “The front runner” e de Lucas Hedges como um adolescente enviado para terapia de conversão gay em “Boy erased” podem ter dificuldades de encontrar tração diante dos trabalhos de transformação vividos por Christian Bale, que encarna Dick Cheney no filme de McKay, e por Rami Malek como o cantor e ex-líder do Queen, Freddie Mercury, no longa “Bohemian Rhapsody”.
Também há curiosidade sobre se Mortensen e Ali irão se inscrever como coprotagonistas de “Green book”, ou se um dos dois se colocará um degrau abaixo, na categoria coadjuvante. Embora seja raro dois atores de um mesmo filme serem selecionados para a mesma categoria, eles têm boas chances em um ano fraco, e Ali merece uma segunda indicação depois de conquistar o Oscar de ator coadjuvante por seu papel em “Moonlight” — agora, o seu trabalho espinhoso e preciso como um pianista que lida com o racismo em “Green Book” oferece nuances que o filme não teria se não fosse ele.
Uma incerteza semelhante torna o certame de melhor atriz difícil de prever, já que “The Favorite” possui três mulheres, cada uma das quais poderia se posicionar como líder: Olivia Colman brilha como uma rainha Anne manipulada por duas mulheres habilidosas em sua corte, interpretadas com precisão cômica por Emma Stone e po Rachel Weisz. Outras duas personagens da realeza também podem disputar indicações, pelo filme “Mary Queen of Scots”, que é estrelado por Saoirse Ronan no papel-título e Margot Robbie como sua rival, a rainha Elizabeth I — Ronan e Robbie foram indicadas ao Oscar de melhor atriz no ano passado e poderiam voltar a essa categoria este ano.
Fora das obras dos tempos da realeza, a categoria de melhor atriz continua robusta: das quatro categorias de atuação, esta tem o maior número de candidatos legítimos. Alguns são vencedores anteriores do Oscar, como Viola Davis, que agora interpreta uma mulher de luto que trama um grande assalto, em “Viúvas”; Nicole Kidman destruindo em “Destroyer”, como uma detetive em queda livre; e Julia Roberts em “Ben is back”, como uma mãe que deve lidar com a interrupção das férias por causa de seu filho, que tenta se recuperar da dependência química. Mas então ainda há Lady Gaga, que mais do que sustenta seu papel diante de Cooper em “A star is born”; McCarthy como uma falsária solitária em “Can you ever forgive me?”; Glenn Close, que interpreta uma cônjuge secreta em “A esposa”, além da recém-chegada Yalitza Aparicio como a empregada que mantém uma família unida em “Roma”. Algumas outras candidatas vêm de filmes de época, como Keira Knightley em “Colette”, Carey Mulligan em “Wildlife”, KiKi Layne em “If Beale Street could talk”, e Felicity Jones como uma jovem Ruth Bader Ginsburg em “On the basis of sex”. Mas há outras que ainda oferecem emoções mais modernas, como Toni Collette no hit de horror “Hereditário”.
Melhor ator e atriz coadjuvantes
Três dos indicados ao Oscar do ano passado poderão estar na lista de melhor ator coadjuvante neste ano: Timothée Chalamet (“Me chame pelo seu nome” interpreta agora um jovem lutando contra as drogas em “Beautiful boy”, Daniel Kaluuya (“Corra!”) está aterrorizante como um capanga assassino em “Widows”, e Sam Rockwell, que ganhou o Oscar de ator coadjuvante no ano passado por “Três anúncios para um crime”, pode voltar a campo pelo seu trabalho como George W. Bush no filme sobre Dick Cheney, de McKay, mas até a estreia do filme não teremos uma ideia clara se o destaque será ele ou Steve Carell interpretando Donald Rumsfeld.
Se “A star is born” e “Pantera Negra” acabarem na disputa de melhor filme, cada um poderia colocar um ator nunca indicado nesta categoria: Sam Elliott traz coração ao primeiro filme, como o irmão mais velho de Bradley Cooper, enquanto Michael B. Jordan é tão feroz em “Black Panther” que seu personagem Killmonger se tornou um dos vilões mais comentados do ano. A corrida do ator coadjuvante provavelmente também abrirá espaço para Richard E. Grant, que está em “Can you ever forgive me?” Lances externos poderiam incluir Russell Crowe, que interpreta um homem religioso em crise com o seu filho gay, em “Boy erased”, além de Adam Driver e Topher Grace que preenchem o elenco de “BlacKkKlansman”.
Se Colman acabar indo parar na categoria de atriz coadjuvante por “The favorite”, ela provavelmente enfrentará candidatas como Claire Foy, que interpreta a esposa de Neil Armstrong em “First man”; Amy Adams, que vive Lynne Cheney no filme de McKay, além de Nicole Kidman, em “Boy erased”, e Regina King, em “If Beale Street could talk”. Caso “Widows” seja um sucesso, a atriz australiana Elizabeth Debicki poderia se apresentar, mas a candidata mais interessante é Tilda Swinton, que interpreta três papéis distintos em “Suspiria”, um dos quais é um psiquiatra idoso.
Por Kyle Buchanan, do The New York Times