Às vésperas das eleições 2018, conselheiros do candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, preparam ações para reforçar uma possível campanha no segundo turno, quando o capitão reformado deverá ter 10 minutos no horário de rádio e TV para o embate direto com o petista Fernando Haddad – se o resultado das urnas confirmar as pesquisas de intenção de votos.
Enquanto consolida as análises, o grupo começa a ser tratado dentro da campanha como embrião do ministério de um eventual governo Bolsonaro. Dele participam generais da reserva, antigos colegas do candidato na Câmara, representantes de classe e de setores da economia que se aproximaram do deputado nos últimos meses. Em entrevistas, Bolsonaro afirma que vai formar um “time técnico”.
A hierarquia de poder e influência dentro do “núcleo duro” da campanha leva em conta as prioridades de seu plano de governo. Misto de secretário pessoal e assessor, o advogado Gustavo Bebbiano é presidente interino do PSL. Ele ajuda nas articulações políticas, participa da distribuição de verba do partido e controla a agenda do candidato.
O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro, que prepara estudos nas áreas de Defesa e segurança pública, o também general da reserva Osvaldo Ferreira (infraestrutura), o economista Paulo Guedes (economia), e o líder ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia(agricultura) são, atualmente, os conselheiros de mais destaque.
O plano de governo para a agricultura prevê numa mesma pasta a agricultura familiar, o Incra e, possivelmente, o Ibama. A agricultura familiar ganharia uma autarquia nos moldes da Embrapa. Ele diz que não haveria diálogo com “organizações” como o MST e as negociações ocorreriam com entidades como a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetag). “O Brasil não precisa de reforma agrária, mas de colonização para assentar as famílias, sem ideologias”, disse Garcia.
Os estudos na área de defesa e soberania nacional preveem o “fortalecimento” da Funai, órgão indigenista que foi sucateado pelos governos do PT e do PSDB. Funai, Ibama, Polícia Federal e a Receita Federal estariam integrados numa política de Estado para a Amazônia. O grupo avalia que é preciso maior rigor na liberação de entrada de ONGs estrangeiras em terras indígenas.
O administrador do Hospital do Câncer de Barretos, Henrique Prata, e o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), são cotados para chefiar a pasta da Saúde num eventual governo Bolsonaro.
Bolsonaro tem recebido políticas de segurança de colegas da Câmara. O candidato manifestou interesse em colocar Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na chefia da Casa Civil. Pelo menos três outros nomes são ouvidos por Bolsonaro na área da segurança pública: Fernando Francischini (PSL-PR) e Major Olímpio (PSL-SP), ambos deputados, e o coronel Ney Oliveira Müller.
Na área de ciência e tecnologia, o candidato costuma citar como referência o nome do astronauta Marcos Pontes, que é tenente-coronel da reserva da Força Aérea, como um dos cotados para assumir pasta na área.
Guedes tem ‘palavra final’ na economia
Indicado por Bolsonaro como futuro ministro da Economia, numa pasta que concentraria os poderes dos atuais ministérios da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Paulo Guedes organiza e comanda as discussões técnicas do programa. Há mais de 30 especialistas debruçados sobre o diferentes temas, entre eles Luciano Irineu de Castro, doutor em matemática e professor da Universidade de Iowa, Adolfo Sachsida, doutor em economia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Arthur Weintraub, advogado e professor da Unifesp.
Desde que se tornaram públicas propostas econômicas de Guedes, como um plano de simplificação tributária que envolveria a criação de imposto sobre movimentações financeiras, a ordem é que os colaboradores não deem entrevistas.
A fidelidade a Bolsonaro e a Guedes é repetida por aqueles que aceitaram falar sob reserva com o Estado. Eles repetem que “a palavra final” sobre o que entra ou sai do programa é de Guedes. É o economista também quem organiza as equipes e autoriza a entrada de novos “voluntários”, como são chamados os colaboradores.
O resultado é que, todos os dias, há alguma reunião ocorrendo. Parte do debate ocorre via WhatsApp. Há conversas também por meio do Skype. Há ainda especialistas que não compõem a equipe mas são ouvidos por Guedes para burilar suas ideias.
É o caso de Marcos Cintra, autor da proposta de imposto único que tem a simpatia de Guedes, e de Roberto Castello Branco, ex-diretor do BC e atualmente na FGV que deu sugestões para a área de óleo e gás.
Leonencio Nossa e Renata Agostini, O Estado de S.Paulo