sexta-feira, 28 de setembro de 2018

"Demanda firme por ativos de energia", editorial do Estadão

Mais do que o valor dos ativos vendidos, o leilão de participações da Eletrobrás realizado na quinta-feira, 27, em São Paulo mostrou o interesse despertado pelos investidores no setor energético. Isso permitiu transferir a grupos privados e estatais um conjunto de linhas de transmissão e empresas de geração eólica localizadas em várias regiões.
Muitos investidores já eram sócios das empresas vendidas e querem consolidar posições. Outros identificaram oportunidades numa conjuntura de dificuldades para o setor de energia, marcada por um regime pluviométrico desfavorável que resultou em declínio do nível dos reservatórios. As usinas térmicas operam em ritmo elevado e, como o custo dessa geração é alto, o consumidor paga caro pela energia.
No leilão, a Eletrobrás conseguiu arrecadar R$ 1,3 bilhão com a venda de 11 dos 18 lotes oferecidos. A empresa comemorou o resultado, que fortalece sua administração financeira, mas ainda busca saídas para vender os sete lotes restantes, avaliados em no mínimo R$ 1,8 bilhão.
Após enormes prejuízos nos últimos anos, a estatal depende do ingresso de novos recursos para reduzir seu endividamento, da ordem de R$ 44,4 bilhões, e melhorar seus demonstrativos financeiros. O presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Junior, comemorou o resultado do certame: “Consideramos que foi um sucesso porque vendemos os ativos de geração e transmissão nos preços que foram colocados”.
Na maioria dos lotes não houve ágio. Num dos lotes havia dois interessados, mas nenhum quis oferecer mais que o preço mínimo, e foi feito um sorteio, vencido pela Alupar. Ágio de 20,3% foi registrado na venda do lote de 75% das ações da Uirapuru Transmissora, arrematado pela estatal paranaense Copel por R$ 105 milhões. O consórcio Olympus VI pagou ágio de 10% para adquirir 49% da Amazônia-Eletronorte Transmissora.
A participação da Eletrobrás nas empresas se dava sob a forma de sociedades de propósito específico (SPEs), que detinham entre 1,5% e 99,99% das ações das empresas vendidas. Em agosto, a estatal já havia vendido o controle das distribuidoras Eletroacre, Boa Vista e Ceron, as três localizadas na Região Norte. A Ceal, de Alagoas, ainda não pode ser vendida, por determinação judicial. O leilão da distribuidora Amazonas Energia está marcado para 25 de outubro.