Seja qual for o resultado das urnas no próximo domingo, 2018 se consolida cada vez mais como a eleição do não.
Ao contrário da lógica do voto na melhor alternativa, vencerá a disputa presidencial aquele que for menos rejeitado, que conseguir angariar um número menor de nãos. E mesmo que os fanáticos de um lado e de outro discordem disso, exorcizar o não será a principal tarefa de um lado e de outro caso se confirmem as pesquisas que colocam Jair Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo turno.
O não impera absoluto. Nos proselitismos e nas baixarias reincidentes nas redes sociais, nas hashtags #elenão para Bolsonaro – que ganhou adeptos em todos os cantos, ultrapassando as fronteiras do país -, e #elesnão para ambos. Nos anúncios eleitorais no rádio e na TV, no discurso dos candidatos.
O sucesso do não veio se desenhando há pelo menos dois anos, quando a Justiça eleitoral não deu importância às campanhas antecipadas de Lula e Bolsonaro. Os dois não deram a mínima para a legislação e os responsáveis por puni-los também não quiseram fazê-lo. Resultado: foram beneficiados pelo não cumprimento da lei.
O não continuou fazendo história no episódio eleitoreiro de Lula, que disse não à ordem de prisão, mantendo sobre si mais de 12 horas de cobertura televisiva ao vivo, essencial para o script de vitimização que passou a dar o tom eleitoral do PT. Ali cravou-se o slogan “eleição sem Lula é fraude”, avalizando a candidatura de um não-candidato, sabidamente impedido pela Lei da Ficha Limpa, embora a oficialização disso pelo TSE só viesse depois de mais de três meses.
Advérbio de negação transformado em prefixo, o não-candidato Lula operou forte quanto aos nãos que o atormentam. E o fez mais e melhor do que os demais concorrentes.
Da cadeia, indicou Haddad como sua marionete. Coordenou a instalação de seu poste e as ações para alianças informais com gente do PMDB, como José Sarney e Renan Calheiros. E, principalmente, determinou o que não poderia ser feito: não seriam permitidas críticas ao escolhido; a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, não poderia mais falar; e não seria tolerada, em hipótese alguma, qualquer contra-ordem.
O capitão reformado está longe de conseguir tal ordem unida. Embora na liderança no embate eleitoral, luta aguerridamente para conter os seus.
Mas também ele se fez pelo não. Sua ascensão se deu nos grupamentos de não peremptório ao PT, boa parte deles presente nas ruas do pré-impeachment de Dilma Rousseff. E de elementos de negação adicionais: não ao comunismo (como se isso ainda existisse), não aos sociais-democratas, não aos movimentos de defesa de direitos humanos.
Outros nãos fazem parte da agenda dos dois: não à liberdade de imprensa, não às diferenças de opinião e ao contraditório.
Tanto para o PT quanto para o time de Bolsonaro, aqueles que não comungam de suas religiões são cartas fora do baralho, gente menor, inimigos.
Difícil alguma construção quando a premissa é o não.
Aqueles que pregavam que eleição sem Lula seria fraude hoje negam o que diziam e consideram legítima uma eventual eleição de Haddad. E Bolsonaro, lider nas pesquisas, reafirma que não aceitará o resultado se não vencer.
Podem até dizer o contrário, mas ambos vão às urnas em prol da não-democracia.
Mary Zaidan é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja